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No caminho certo

No caminho certo
Cortesía de Alex de Souza
Redacción
Felipe Rocha
Publicado el
7 de octubre 2024

Alex de Souza

Antalyaspor, 2024-Presente

Vai completar uma década da minha despedida, mas, juro, sinto como se tivesse acontecido na semana passada.

As memórias da minha última partida como jogador continuam vívidas dentro de mim. Lembro-me de cada detalhe daquele domingo, no Couto Pereira.

A semana toda havia sido bem tranquila. No jogo anterior, contra o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte, nos livramos do rebaixamento. Até então, eu convivia com o medo de encerrar a carreira caindo para a segunda divisão.

Eu mal treinei naqueles dias que antecederam o duelo com o Bahia. Passei mais tempo com o pessoal do marketing do clube, preparando a festa, do que propriamente treinando para o jogo.

Alex iniciou e encerrou sua carreira como jogador no Coritiba. Em sua trajetória, se destaca uma passagem de oito anos no Fenerbahçe. Mustafa Ozer/AFP via Getty Images

Para mim, e para todos no Coritiba, era exatamente isso: um jogo festivo.

Eu tinha combinado com o treinador, Marquinhos Santos, que ele me substituiria nos minutos finais da partida. Até o juiz colaborou para que fosse tudo perfeito, ao não apressar aqueles momentos que não saem da minha mente.

Curiosamente, quem entrou no meu lugar foi o Keirrison, alguém que eu conhecia desde criança. Um jogador por quem todos nós, torcedores do Coritiba, sempre tivemos muito carinho.

"As memórias da minha última partida como jogador continuam vívidas dentro de mim"

No instante da substituição, a minha esposa e os meus três filhos descem da arquibancada e se juntam a mim, à beira do campo, para assistir aos minutos finais do jogo. De repente, Keirrison escapa, sai na cara do gol e faz o 3 a 2 para a nossa equipe.

Corro para abraçá-lo e me sinto o torcedor mais sortudo do mundo por poder comemorar com os jogadores em campo. Ali, eu já me sentia um ex-jogador.

Keirrison (na foto) foi quem entrou no lugar de Alex em seu último jogo. Um jogador pelo qual o protagonista da entrevista no The Coaches' Voice tem um carinho especial. Heuler Andrey/Getty Images
Keirrison (na foto) foi quem entrou no lugar de Alex em seu último jogo. Um jogador pelo qual o protagonista da entrevista no The Coaches' Voice tem um carinho especial. Heuler Andrey/Getty Images

Eu estava muito bem resolvido sobre a aposentadoria. Fazia meses que tinha decidido que aquela seria a minha última temporada. E nunca mais senti vontade de jogar. Na verdade, a vontade era outra: ser treinador. 

A culpa é da minha mulher, sabe? Quantas vezes, durante meus oito anos de Fenerbahçe, sem conseguir dormir após os jogos, abríamos uma garrafa de vinho e ficávamos a noite inteira conversando. Ela repetia sempre: ’’Você será treinador’’.

Fui capitão no Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro, na seleção brasileira e no Fener. Sempre estive muito próximo dos meus treinadores, conversava com eles a respeito de tudo.

"O primeiro clube a me abrir as portas foi o São Paulo"

O capitão tem preocupações diferentes das dos demais integrantes do elenco. Precisa estar atento e conversar com algum companheiro que necessite de ajuda e entender exatamente o que o treinador quer de cada jogador.

E minha esposa ficava metendo pilha. Mas eu dizia que ela estava maluca, que não queria ser treinador. Eu dizia que queria ficar em casa, sossegado. Mas, claro, ela estava certa.

Alex vestiu a camisa da seleção brasileira em dez oportunidades. Orlando Kissner/AFP via Getty Images
Alex vestiu a camisa da seleção brasileira em dez oportunidades. Orlando Kissner/AFP via Getty Images

Após pendurar as chuteiras, em 2014, me matriculei na CBF Academy para tirar as licenças de treinador. Mas demorei para tomar coragem e, de fato, começar o curso.

Tanto que em 2016, ainda sem o ter iniciado, recebi uma proposta da ESPN Brasil para virar comentarista. Eu não imaginava, mas aquela experiência foi mais um incentivo para me tornar treinador.

Convivi com grandes jornalistas, fiz muitos amigos e conheci uma nova maneira de enxergar o futebol. Foi um período muito interessante que, de certa forma, me motivou a, enfim, dar início aos cursos de treinador.

"Fui capitão no Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro, na seleção brasileira e no Fener. Sempre estive muito próximo dos meus treinadores"

Tirei todas as licenças possíveis enquanto seguia nas minhas funções na televisão. Até que decidi abandonar o trabalho de comentarista para me colocar no mercado como treinador de futebol.

O primeiro clube a me abrir as portas foi o São Paulo. Assumi o comando da equipe sub-20. Sou muito grato ao São Paulo porque eu não tinha nenhuma relação com o clube. Pelo contrário, eu havia atuado por anos em um rival, o Palmeiras.

Sinto que retribuí ao São Paulo a confiança que depositou em mim. Aquela geração de jogadores tem trazido muitos frutos ao clube.

Alex começou sua carreira como técnico nas categorias de base do São Paulo. Uma curiosidade: o São Paulo é um dos maiores rivais do Palmeiras, time pelo qual ele também passou como jogador. Foto: cortesia de Alex. 
Alex começou sua carreira como técnico nas categorias de base do São Paulo. Uma curiosidade: o São Paulo é um dos maiores rivais do Palmeiras, time pelo qual ele também passou como jogador. Foto: cortesia de Alex. 

Depois, surgiu a minha primeira chance como treinador de uma equipe principal, no Avaí. Mais uma vez, tratava-se de um clube com o qual eu não tinha nenhuma ligação. Eu nem sequer havia jogado na Ressacada. As nossas histórias ainda não haviam se cruzado.

Foi outra experiência valiosa para a minha caminhada como treinador. Foram 5 meses de muito aprendizado.

"A minha ambição é construir uma carreira sólida como treinador de futebol"

Agora, estou no início de meu terceiro trabalho como técnico, no Antalyaspor, da Turquia. E a história se repete: não havia nenhuma conexão prévia entre mim e o clube. É algo que me orgulha: a minha trajetória como treinador caminha independente do que fiz como jogador.

Fui muito feliz como atleta, pude experimentar sensações que jamais havia sequer sonhado. Joguei por grandes clubes e pela seleção brasileira, conquistando títulos importantes em cada etapa da minha carreira. Houve também momentos ruins e experiências frustrantes porque eu esperava coisas que não aconteceram.

Alex estreou como técnico na primeira divisão em 2023, no comando do Avaí. A partir de 2024, está à frente do Antalyaspor, na Turquia. Foto: cortesia de Alex
Alex estreou como técnico na primeira divisão em 2023, no comando do Avaí. Desde 2024, está à frente do Antalyaspor, da Turquia. Foto: cortesia de Alex

Mas você aprende a superá-las com o tempo. E todas as experiências que vivi, tanto as positivas quanto as negativas, fazem parte de como vejo o mundo e o futebol. O treinador é a sua visão de mundo. É isso que eu carrego comigo a cada dia, a cada treino.

Sou um jovem treinador, ainda em início de carreira. Sei que tenho um milhão de coisas para aprender, que há milhares de quilômetros de estrada para pavimentar. Mas me sinto no caminho certo.

A minha ambição é construir uma carreira sólida como treinador de futebol. Não tenho sonhos de comandar este ou aquele clube, de disputar esta ou aquela competição.

Alex, como confessa na entrevista, sonha em aproveitar cada momento da sua carreira como técnico. Foto: cortesia de Alex
Alex, como sublinha na entrevista, quer desfrutar cada momento da sua carreira como técnico. Foto: cortesia de Alex

Se você me perguntasse, quando iniciei nas categorias de base do São Paulo, se eu acreditava que estaria no comando de um time da primeira divisão da Turquia em três anos, é claro que eu diria que não.

O mundo é enorme, tem muitos clubes, seleções e competições. Quero aprender e desfrutar de cada passo do caminho.

E agora, esse passo é na Turquia.

Alex de Souza