O que é a formação 4-2-4?
A formação 4-2-4 é composta por uma linha defensiva de quatro jogadores: dois zagueiros e dois laterais. À frente dos zagueiros, há uma dupla de volantes e, por fim, uma linha de ataque alta com quatro jogadores. Esse sistema geralmente tem uma linha de frente agressiva, pois os pontas ou meio-campistas abertos se posicionam e permanecem bem avançados no terreno de jogo, ao lado dos atacantes.

Quais são as origens do 4-2-4?
Acredita-se que o desenvolvimento inicial do 4-2-4 tenha ocorrido nas décadas de 1940 e 1950, a partir do trabalho do técnico húngaro Márton Bukovki. Naquela época, a Hungria estava na vanguarda do futebol mundial, e Bukovki adaptou o 3-2-2-3, mais conhecido como W-M (abaixo), fazendo com que seu centroavante recuasse, enquanto os dois meias-atacantes avançavam para criar uma dupla de ataque.

Os volantes também ajustavam suas posições: um deles recuava para a linha defensiva para oferecer cobertura adicional e o outro se juntava ao centroavante, em sua nova posição no terreno de jogo. Os pontas, por sua vez, assumiam posições ainda mais abertas em campo para formatar a linha de ataque (abaixo).

Bela Guttmann, colega húngaro de Bukovki, também teve um papel importante na evolução para o 4-2-4. Ele treinou 19 clubes diferentes em 10 países, e ganhou 10 títulos de liga, com destaque para duas Taças dos Campeões Europeus com o Benfica. No entanto, foi no Brasil que Guttmann realmente tornou-se pioneiro de um 4-2-4 bem mais definido do que até então.
Durante seu período no comando do São Paulo, Guttman foi auxiliado por Vicente Feola na conquista do Campeonato Paulista de 1957. Um ano depois, Feola foi o técnico do Brasil campeão mundial, utilizando um 4-2-4; a seleção brasileira faria adaptações ao sistema também nas conquistas das Copas de 1962 e 1970. Mário Jorge Lobo Zagallo, que jogou pelo Brasil nos Mundiais de 1958 e 1962, foi o técnico do título em 1970.
Mais recentemente, nesta década de 2020, o W-M teve um retorno significativo ao futebol de alto nível, especialmente na Premier League. O 4-2-4 tem sido usado com frequência durante a fase defensiva, com as equipes formando blocos médios ou altos no 4-2-4 para combater as formações 3-2-2-3 dos adversários, adotadas durante a construção ofensiva (abaixo).

Quais são as responsabilidades do 4-2-4 em fase ofensiva?
Uma equipe que joga no 4-2-4 terá um número significativo de jogadores em posições de ataque, muitas vezes emparelhados diretamente, ou seja, em situações de 1x1 com a linha defensiva adversária. Essa estrutura oferece boas opções para combinações de ataque. Os dois centroavantes devem ser capazes de se complementar, por exemplo, um atacando em profundidade e o outro recuando. Ambos devem ser uma ameaça de gol nas áreas centrais, assim como precisam se conectar entre si e com os jogadores abertos para superar os zagueiros rivais.
O 4-2-4 dá mais ênfase ao 1v1 pelos lados do campo. Os meio-campistas abertos ou os pontas fornecem amplitude ao time, enquanto os centroavantes fixam os zagueiros adversários. Os pontas devem ser dribladores, capazes de superar marcadores antes de efetuarem cruzamentos, passes em profundidade, inversões de jogo ou combinações por áreas internas. Eles também devem representar uma ameaça secundária ao gol, atacando a segunda trave ou cortando para dentro.

A dupla de meio-campistas costuma ser muito exigida nessa formação e, portanto, deve ser atlética o suficiente para cobrir grandes distâncias no setor. É fundamental que, com a posse de bola, gerenciem adequadamente a distância entre si para poderem se conectar. Eles também devem ter capacidade de executar diferentes tipos de passes, pois nem sempre será possível jogar curto para a frente. Romper linhas com passes penetrantes ou fazer inversões de jogo acaba por ser mais importante para a dupla de meio-campistas nesse sistema.
Os laterais são menos ofensivos no 4-2-4 devido à presença de atacantes pelos lados do campo. Em vez disso, oferecem apoio a partir de posições mais recuadas, com poucas corridas à linha de fundo, e mais auxílio aos meio-campistas em zonas internas. Se os pontas mantiverem a largura máxima, um posicionamento mais fechado dos laterais ajuda a criar linhas de passe.
Os dois zagueiros tendem a buscar a conexão com o meio-campo, mas considerando que há uma linha de ataque tão agressiva, eles também podem optar pela ligação direta com os atacantes. O que geralmente inclui inversões de jogada para os pontas agredirem o espaço às costas da última linha rival. Lançamentos diretos para os centroavantes também são uma opção, a partir dos quais a linha de frente pode fixar marcadores e se conectar.
Quais são as responsabilidades do 4-2-4 em fase defensiva?
O 4-2-4 pode ser usado com uma estratégia agressiva de pressão ou até mesmo com um bloco médio (abaixo). Com um bloco mais retraído, a linha de frente tenta bloquear o acesso aos jogadores centralizados do adversário, para forçar o jogo pelos lados. Os centroavantes geralmente protegem o acesso aos volantes rivais, com os pontas a postos para saltar quando os adversários avançarem com a bola, geralmente pressionando de fora para dentro.

A dupla de meio-campistas oferece proteção à frente da linha defensiva. Eles geralmente se concentram no camisa 8 e no camisa 10 do adversário, até com marcação individual, quando necessário. Quando um passe do rival supera a primeira linha de marcação, os meio-campistas geralmente precisam se envolver em duelos diretos.
A linha defensiva deve permanecer o mais compacta possível durante o maior tempo possível, incentivando o jogo do rival pelos lados. Os zagueiros geralmente têm cobertura e proteção à sua frente graças à dupla de meio-campistas, mas precisam manter uma linha defensiva alta para encurtar as distâncias entre as linhas. Quanto mais eles fizerem isso, mais fácil será para o 4-2-4 forçar e manter a bola longe dos espaços centrais. Isso significa que os laterais são frequentemente solicitados a defenderem no 1 contra 1. Eles devem ser fortes nesses duelos, cobrir o acesso por dentro e bloquear cruzamentos.
Ao pressionar (abaixo), o 4-2-4 conta com sua linha de ataque e, muitas vezes, opta pelos duelos com a linha defensiva adversária. Os dois centroavantes pressionam diretamente os zagueiros. Um deles deve estar disponível para pressionar o goleiro e, ao mesmo tempo, cortar o acesso ao zagueiro que estava marcando. Os pontas pressionam os laterais, geralmente forçando o jogo pelos lados, contando com linha lateral como um defensor extra.
Durante uma pressão alta, é importante que o ponta do lado oposto da jogada se aproxime para impedir qualquer tentativa de saída pelo corredor interno oposto ou inversões de jogo para superar a pressão. Quando o rival tiver um trio de meio-campistas - como num 4-3-3 -, esse ponta mais fechado ajuda a rastrear e marcar o meio-campista rival mais distante da bola. Os dois meio-campistas no 4-2-4 podem, então, fazer uma marcação individual. Caso contrário, um dos jogadores da linha defensiva - geralmente um zagueiro - terá de subir para defender no meio-campo.

Os meio-campistas em um 4-2-4 podem tanto marcar individualmente quanto por zona. Eles geralmente são responsáveis por pressionar os jogadores adversários mais avançados no setor. Se o lateral não tiver saltado de forma agressiva para apoiar a pressão do ponta, o meio-campista mais próximo pode ser necessário para oferecer cobertura pelo lado e impedir o progresso do adversário. Seu parceiro de meio-campo deve, então, deslizar para encontrar o equilíbrio posicional.
Assim como acontece com os pontas, os laterais geralmente pressionam de fora para dentro. Isso funciona para manter a bola em um lado do campo sempre que possível, encurralando o adversário entre o marcador e a linha lateral. Ao defender em bloco, os laterais devem ser fortes no 1v1. Os zagueiros devem ser ágeis e flexíveis o suficiente para duelar no meio-campo, mas também devem oferecer cobertura secundária por dentro da pressão dos laterais. De fato, a capacidade de toda a linha defensiva de se deslocar pelo campo é fundamental para a pressão num 4-2-4.
Exemplos de equipes no 4-2-4
Roberto De Zerbi no Sassuolo, Shakhtar Donetsk, Brighton e Marselha
As equipes de De Zerbi frequentemente utilizam um 4-2-4 ao executar seu estilo único de construção. Ele posiciona a dupla de volantes muito estreita e próxima aos zagueiros. Assim, eles conseguem trocar passes curtos e regulares com os demais companheiros. Os pontas jogam bem avançados, fixando os laterais adversários na defesa, enquanto os centroavantes realizam movimentos em direções opostas (abaixo). Isso cria espaço para que os laterais recebam em movimento, já que eles atraem a pressão antes de se conectarem à linha de frente muito alta e agressiva.

Antonio Conte na Itália, no Chelsea e na Inter
Embora Conte tenha usado com frequência um esquema com três zagueiros para jogar no seu habitual 3-5-2, na posse de bola, suas trocas de posições e ideias de ataque muitas vezes levaram a um esquema 4-2-4. Assim, ele teve algum sucesso com a seleção italiana e com a Inter de Milão, mas voltou ao 3-4-2-1 no Chelsea, depois de um início ruim com o 4-2-4.
Nas equipes de Conte, o volante mais defensivo geralmente recua à linha de trás, somando-se aos três zagueiros. Os dois meio-campistas interiores, então, tornam-se conectores da linha de frente, com os alas, bem ofensivos, ocupando posições avançadas do campo (abaixo). Aqui, eles podem trabalhar com a dupla de atacantes (abaixo).

O Liverpool de Arne Slot
Nos primeiros meses de seu trabalho no Liverpool, Slot usou um 4-2-4 ao atacar e ao defender. Seus pontas - especialmente Mohamed Salah - começam em posições altas, bem abertos e são agressivos. Na verdade, os passes diretos da linha defensiva não passam pelo meio-campo e vão diretamente para os pontas, com um meio-campista pronto para correr à frente e se posicionar ao redor do centroavante para completar uma linha de quatro no ataque (abaixo). Slot também incentiva um segundo meio-campista a atacar o espaço, quando apropriado. Isso dá ao Liverpool uma forte presença ofensiva.

Quais são as vantagens de jogar com um 4-2-4?
O 4-2-4 acumula um número significativo de jogadores no campo adversário, como mencionado acima, emparelhados individualmente com a linha defensiva rival. Sem a necessidade de trocar de posições, o 4-2-4 oferece uma ameaça imediata no último terço do campo. Ele facilita os ataques por meio de jogo direto, contra-ataques ou de uma posse de bola prolongada. Ao enfrentar uma defesa com quatro elementos, favorece múltiplos 1x1; os pontas com capacidade de superar seus adversários diretos podem, então, oferecer uma vantagem imediata. Se os centroavantes dominarem seus marcadores - ao fixá-los para receber o passe, com movimentações inteligentes ou simplesmente os superando com bola e finalizando a jogada - o 4-2-4 pode proporcionar um alto retorno de gols.
Os quatro da linha de frente também podem fazer uma pressão pós-perda agressiva no alto do campo. Isso coloca os defensores adversários sob pressão imediata quando recuperam a bola. Com uma pressão organizada, o acúmulo de jogadores e o posicionamento da equipe em um 4-2-4 ajudam a recuperar a bola no campo adversário. Atrapalhando, assim, a saída de bola do rival. Quando a linha de frente consegue executar com precisão essa pressão agressiva, o 4-2-4 torna-se muito eficaz.
Outro ponto positivo do 4-2-4 é que uma variação sutil pode criar diferentes desenhos táticos, estruturas e ideias de jogo. Um centroavante que recua pode resultar num 4-2-3-1. Se esse movimento for diagonal, então um meio-campista pode ajustar o desenho para formar um 4-3-3 (abaixo). Os pontas que acompanham a bola, ou que simplesmente começam mais recuados, podem rapidamente formar um 4-4-2. Com essa flexibilidade, uma equipe pode se adaptar rapidamente. Os jogadores podem ter mais liberdade para resolver problemas do que acontece em outras estruturas.

Dependendo do posicionamento dos pontas após a recuperação da posse de bola, o 4-2-4 pode representar uma ameaça significativa de contra-ataque, caso a unidade frontal permaneça relativamente alta no terreno de jogo. Se a linha defensiva e o meio-campo tiverem impedido o ataque adversário, a linha de frente terá amplitude, altura e potencial de inverter posições. Tudo isso é crucial para um contra-ataque bem-sucedido.
Quais são as desvantagens de jogar com um 4-2-4?
A dupla de meio-campistas pode facilmente ficar sobrecarregada. Se a linha de ataque não mantiver a posse de bola, os espaços centrais estarão abertos para as transições rivais. Esse é especialmente o caso se o apoio ou a cobertura do lateral não tiver sido bem estabelecida pelo 4-2-4. Portanto, pode ser mais fácil contra-atacar uma equipe que joga no 4-2-4.
Se os passes para frente dados pela linha defensiva não forem bem-sucedidos, as lacunas podem ser exploradas na segunda fase da jogada. Sem muito apoio para jogar curto, a perda da posse de bola pode ser particularmente prejudicial devido às distâncias entre os jogadores.
Os movimentos abertos dos laterais e dos pontas adversários também podem explorar os espaços mais evidentes deixados em um 4-2-4. As equipes podem se adaptar nos momentos com bola, com os meio-campistas ofensivos caindo pelos lados para escaparem da marcação. Assim, eles podem receber o passe com mais liberdade, para depois voltarem a atacar por dentro. Isso se tornou uma tendência crescente na Premier League, já que o 4-2-4 tem sido usado como uma resposta defensiva ao 3-2-2-3 em fase de posse de bola.
Você também pode verificar a oferta acadêmica da MBP Coaches' School.