O técnico de futebol é também um gestor de pessoas. O trabalho não é só tático ou técnico. Você precisa liderar um grupo, fazer com que ele acredite em seus métodos. Ao comandar atletas de culturas distintas, você ganha jogo de cintura, flexibilidade.
Quando estive no Benfica, entre 1996 e 97, era o primeiro ano da Lei Bosman. Ou seja, trabalhei com jogadores de 13 nacionalidades diferentes. Atualmente, é algo corriqueiro nos grandes clubes europeus. Naquela época, torcedores e imprensa eram resistentes à mudança.
Não entendiam como seria possível comandar um grupo tão heterogêneo. Para mim, foi extremamente valioso gerir pessoas de hábitos e culturas variadas.
“Embora eu não tenha a experiência valiosa de haver sido jogador profissional, busquei outras formas de adquirir conhecimento”
Eu gostaria, mas não fui jogador profissional. Uma poliomielite me cortou qualquer possibilidade de chegar ao profissionalismo. É público, só que não gosto de me estender sobre o tema. Não me tornei atleta, mas minha vida sempre esteve ligada ao futebol. Joguei futsal até os 16 anos. No Brasil, o futsal é uma realidade muito competitiva.
Creio que deveria estar presente nas categorias de formação dos jogadores de campo. A vida me levou por outro caminho. Acabei por enveredar para a formação acadêmica do esporte. Se não tive a valiosa experiência de ser atleta, busquei outras formas de obter conhecimento. E sempre fui um apaixonado pelo jogo.
Tenho tanto apreço pela estratégia, quanto pela beleza do esporte. Há um vídeo que circula na internet, dos tempos que treinei o Marítimo, no começo dos anos 90. Era a primeira vez que o clube da Ilha da Madeira se classificava para uma competição europeia. No vídeo, o jornalista me chama de filósofo, lírico e romântico. Alguém preocupado em jogar um futebol atraente, como forma de se chegar ao resultado.
Eu nunca consegui analisar e ver o futebol sem contemplar as vertentes antropológicas, sociais e filosóficas. Futebol é antropologia pura. O homem e o contexto.
Uma coisa que não aceito é aquele lance de ‘nasci pra ganhar’. Ninguém nasce pra perder. Ganhar é consequência de uma série de fatores. Percebo que no mundo moderno existe uma obsessão pela vitória. É preciso ganhar de qualquer maneira.
É um pensamento perigoso. A minha máxima, como pessoa, sempre foi ganhar de mim, próprio. Evoluir. Crescer. Quero ser melhor do que fui. O que sou como pessoa, sou como profissional.