luís castro
Botafogo, 2022-Presente
O Botafogo sempre esteve no meu imaginário. O Brasil sempre me apaixonou.
É um país pentacampeão do mundo, que produziu, ao longo do tempo, grandes jogadores. Dentre eles, Garrincha, Jairzinho, Nilton Santos, Amarildo, Didi, para citar só alguns, foram estrelas do Botafogo.
O Botafogo é um dos meus maiores desafios na carreira. Construir uma equipe, construir um centro de treinos, construir um conjunto de infraestruturas para suportar a equipe são desafios enormes.
A oportunidade surgiu através de John Textor, que é o novo dono do clube. Fui chamado para ajudar na reconstrução do Botafogo. Para, juntos, deixarmos para trás os momentos difíceis que o clube tinha vivido e projetá-lo a bons níveis de produção, tornando-se capaz de fazer bons campeonatos no Brasileirão.
É uma missão muito difícil. Temos que estar permanentemente atentos à equipe e ao mercado. Temos que fazer grandes projetos internos para criar estruturas cada vez melhores.
"O Botafogo é um dos meus maiores desafios na carreira"
A equipe veio da Série B. Na minha primeira temporada, o nosso grande desafio era a manutenção na Série A. Acabamos por conquistar uma vaga na Copa Sul-Americana. Foi um primeiro ano complexo, mas com bons resultados.
Adoro construir equipes. Como treinador, busco clubes onde possa construir a minha equipe. Onde eu sinta que tenho tempo para isso. Eu sei que o tempo é conquistado através dos resultados, que os treinadores compram tempo com os resultados. Mas a minha principal preocupação é construir uma equipe. Mesmo sabendo que o mundo do futebol é perigoso para os treinadores. Mas é também um mundo muito aliciante.
Uma equipe constrói-se no seu todo. Não sou daqueles treinadores que trabalham o momento defensivo para depois trabalharem a transição ofensiva. E, mais tarde, trabalhar o momento ofensivo. Acho que uma equipe forma-se em função daquilo que é nossa ideia de jogo, mas também em função daquilo que é o contexto que vamos encontrar.
Portanto, encontrei um contexto na Ucrânia, deixei um contexto em Portugal, encontrei um contexto no Oriente Médio, no Catar, que é totalmente diferente do Brasil. Para construirmos uma equipe, temos que perceber exatamente qual é a cultura do país, qual é a cultura do clube, aquilo que é a nossa ideia e aquilo que é a ideia de futebol no país. E aí, construímos uma equipe.
"Como treinador, busco clubes onde possa construir a minha equipe"
Cada momento da nossa carreira tem sua importância. Dizer qual é a equipe que me deu mais prazer de trabalhar, ou que vi mais projetado em campo aquilo que são as minhas ideias de jogo? Talvez, onde mais consegui foi no Chaves, na Primeira Liga portuguesa, e no Shakhtar Donetsk. Incluo também o Porto B, no ano em que fomos campeões da Segunda Liga.
Da minha passagem pelo Porto ainda permanecem muitas coisas comigo. Gosto muito de partilhar conhecimento. Gosto muito de falar sobre futebol com os meus colegas. Gosto muito de orientar os jogadores, de perceber seus problemas, ajudá-los e lhes dar a minha atenção.
Fui um diretor-técnico e treinador assim no FC Porto, sempre muito atento às pessoas, e esta continua a ser a minha marca no futebol. Muito atento àquilo que é o jogador, mas também à pessoa na qualidade de jogador. Muito atento àquilo que é o treinador, mas também à pessoa na qualidade de treinador.
Desde que comecei, sempre fui um treinador assim. Mas isso ficou mais forte desde que passei pelo Porto. Na altura, enquanto diretor-técnico, eu era responsável por cerca de 20 treinadores, além de um conjunto de managers e um mundo de jogadores. Eram mais ou menos 350 atletas, sobre os quais eu tinha que decidir o futuro no final de cada temporada. Muito do que fui nesse período permanece comigo.
"Talvez, onde mais consegui foi no Chaves, na Primeira Liga portuguesa, e no Shakhtar Donetsk. Incluo também o Porto B"
Sempre gostei de ter jogadores jovens nas equipes e sempre gostei de lançar esses jovens. Mas para isso, temos que prepará-los muito bem. Porque podemos estar a destruir um jogador se ele não estiver bem preparado. Caso contrário, não estamos a ajudá-lo. Estamos a expô-lo perante o perigo.
Gosto de ajudar o jogador a crescer, gosto de ajudar o jogador a formar-se enquanto profissional e enquanto homem. É uma área que me apaixona muito. Por isso, quero estar sempre ligado às categorias de base. Não só ser treinador da equipe A, mas estar também ligado às academias. E tirar o máximo proveito dos jovens que vêm de lá.
A minha experiência na Ucrânia tem me ajudado muito em meu trabalho no Botafogo. Quando estivemos em Donetsk, no Shakhtar, havia quase que 50 por cento de jogadores ucranianos e a outra metade era formada por brasileiros. Ali, notava-se claramente, que os jogadores brasileiros eram mais emocionais, queriam mais liberdade em campo. Enquanto os ucranianos gostavam de um jogo mais guiado, de tarefas mais bem definidas.
"Estou feliz no Botafogo. Mas é fundamental termos paciência Para construirmos uma equipe vencedora"
Quando cheguei ao Botafogo, entendi claramente que era, de fato, aquilo que eu pensava: os jogadores brasileiros são muito emocionais e ligados a uma torcida também muito emocional. No Brasil, sente-se muito a paixão da torcida. Sente-se muito a emoção dela a cada dia e, fundamentalmente, em dias de jogos. Mas aquilo que a torcida quer é o que nós, treinadores, queremos. É o que nós, jogadores, queremos.
Eu gosto muito dos atos espontâneos de uma torcida. Se a torcida está triste não pode se manifestar de forma alegre. O futebol é para isso mesmo. É para manifestarmos os nossos sentimentos. Estou totalmente em paz com aquilo que encontrei no Brasil, e a forma como o Brasil vive o futebol.
O Brasileirão talvez seja um dos campeonatos mais difíceis do mundo. É servido de bons jogadores, mas o jogo parte-se muito. Anda muito em jogo de transições. Os jogos também são muito emocionais, a dimensão de rendimento psicológica tem uma grande interferência em cada uma das partidas.
Muitas vezes, perde-se aquela racionalidade do jogo, em que nós queremos controlá-lo através da bola, chegar à baliza quando entendemos fazê-lo. Os adversários são muito pressionantes e levam o jogo muito para essas transições. Rapidamente, percebemos que também tínhamos que ter jogadores de transição para nos opormos às equipes que jogam permanentemente em transição. Temos que trabalhar um pouco diferente porque o contexto é diferente.
Estou feliz no Botafogo. Mas é fundamental termos paciência. Para construirmos uma equipe vencedora, é preciso tempo. Eu sei que os resultados são muito importantes no Botafogo, mas a paciência também precisa ser porque só ela pode nos levar a grandes resultados. Para projetarmos o Botafogo a um futuro cada vez melhor.