Rúben amorim
Sporting Clube de Portugal - 2020-Presente
Em sua curta trajetória como treinador, Rúben Amorim firmou-se como um dos jovens técnicos mais valorizados da atualidade. Depois de começar sua caminhada no Casa Pia, na terceira divisão portuguesa em 2018, Amorim teve sua primeira oportunidade em um grande clube quando o Braga o escolheu como treinador de sua equipe B. Apenas três meses depois, após a demissão de Ricardo Sá Pinto, Amorim assumiu o comando da equipe principal. Assim, com apenas 34 anos, tornava-se treinador em uma das principais ligas europeias.
Amorim impressionou tanto em seus 13 jogos -10 vitórias, 2 derrotas e um empate - à frente do Braga, em meados da temporada 2019/20, que o Sporting desembolsou uma quantia importante para tê-lo como seu comandante em março de 2020. Em sua primeira temporada completa no clube de Lisboa (2020/21), Amorim conseguiu a ‘dobradinha’ - Primeira Liga e Taça de Portugal -, interrompendo um jejum de 19 anos dos Leões sem a conquista do campeonato português e, sofrendo apenas uma derrota em toda a campanha. Revés ocorrido na penúltima rodada da liga, quando o título já estava assegurado.
O futebol vistoso e eficaz que propõe Amorim no Sporting tem causado um grande impacto. Muita gente ao redor da Europa tem monitorado a sua evolução. A seguir, analisamos no The Coaches’ Voice as variações táticas do treinador português.
Flexibilidade no trio de zaga
No Sporting, Rúben Amorim normalmente utiliza uma estrutura de três defensores e, ao longo de seu trabalho no clube, sua equipe tem praticado um jogo baseado no domínio da posse de bola. Na saída de bola, Amorim quer que seus três zagueiros rompam a primeira linha rival pelo centro do campo, sempre que possível.
Com a aproximação da dupla de volantes, os zagueiros Sebastián Coates, Gonçalo
Inácio e Matheus Reis, lateral-esquerdo improvisado, buscam passes à frente para fazer essa conexão com os volantes. A seguir, a dupla de volantes tenta girar e encontrar os atacantes entre as linhas de marcação. Quando não conseguem girar, os volantes acionam, então, os laterais para tentar a progressão por fora.
Amorim também pode ajustar o desenho de sua equipe com um dos zagueiros - geralmente Coates - adotando um posicionamento um pouco mais alto (abaixo). Isso faz com que os volantes caiam para os lados e se aproximem dos laterais. Uma disposição que também visa abrir mais linhas de passes para conexões diretas e incisivas a partir da momentânea dupla de zaga em direção aos atacantes. Esses passes costumam ignorar opções mais próximas e, em vez disso, buscar um atacante que tenha se deslocado aos corredores internos.
O mais avançado dos três zagueiros opera, então, entre os dois volantes e, ao fazê-lo, pode gerar uma superioridade numérica nas zonas centrais para ajudar a superar uma pressão alta do adversário. Deste modo, os jogadores da retaguarda da equipe de Amorim podem seguir concentrados em romper linhas buscando conexão com seus companheiros centralizados e só acionam os laterais durante uma eventual reconstrução da jogada, quando for absolutamente necessário.
No caso dos zagueiros abertos não poderem acionar diretamente a dupla de volantes, é utilizado um esquema inverso ao anterior: eles conduzem a bola para dentro com a intenção de encontrar os volantes em posições adiantadas.
Corredores internos
Mais à frente, Rúben Amorim gosta que suas equipes ataquem com três atacantes móveis, que mudem suas posições para encontrar espaços entre linhas. A maior parte do tempo, os alas são os responsáveis por dar amplitude ao time, enquanto os extremos se movem para dentro, seja com ou sem a posse da bola. Nas últimas temporadas, jogadores como Marcus Edwards, Pedro Gonçalves, Francisco Trincão, Pablo Sarabia e Bruno Tábata, que fizeram esse trabalho por dentro e, por vezes, até à frente do centroavante, foram uma ameaça constante à baliza adversária.
Por muitas vezes, Amorim utilizou Paulinho, um centroavante mais tradicional, no centro da linha de três no ataque. Mas, pouco a pouco, tem optado por uma ofensiva mais fluida, com jogadores que podem tanto atacar desde posições abertas, assim como podem ocupar uma zona central. Isso tem dado mais fluidez para encaixar atletas entre linhas, e criar superioridades importantes nos corredores internos.
Com os alas oferecendo amplitude, Rúben Amorim normalmente quer dois de seus atacantes ocupando o corredor interno. O terceiro e último atacante se aproxima para virar uma ameaça central, com o ala e o externo disponíveis para uma combinação de jogo (acima). Essa estratégia de gerar superioridades em um lado do campo tem a assinatura do trabalho de Amorim, que identifica e põe para jogar atletas capazes de combinar em espaços reduzidos no corredor interior para atrair o adversário ao lado desejado do campo. Quando não é possível progredir pelo centro, abre-se a possibilidade de inverter a jogada e isolar um defensor rival do outro lado do gramado.
Extremo de origem, Nuno Santos foi transformado em lateral, o que trouxe à equipe uma presença ofensiva adicional no último terço pelo lado esquerdo. No Sporting, isso se traduz em superioridades numéricas no corredor interno direito, deixando Santos com maior liberdade pela esquerda, pronto para situações de 1 contra 1, nas quais ele se sente bem confortável. Assim, após uma inversão de lado da jogada, os homens que previamente haviam sobrecarregado o corredor interior direito correm para atacar a área, a qual Nuno Santos tentará levar a bola seja através de cruzamentos, passes ou uma condução. A dupla de volantes se mantém na cobertura atrás da linha da bola, o que permite aos alas avançarem simultaneamente. Amorim gosta que suas equipes ataquem com cinco jogadores, o que mantém outros cinco por trás da linha de passe.
Modelo de pressão
Sem bola, o Sporting de Rúben Amorim é uma das equipes mais intensas de Portugal. Quando pressiona acima, os três atacantes fecham por dentro para priorizar a proteção dos espaços centrais. A exemplo do que acontece quando a equipe tem a bola, o primeiro pensamento de Amorim é ocupar as zonas centrais.
Uma vez que o rival fique comprometido com a pressão, os atacantes tentam forçar o jogo por fora, com os atacantes de lado orientando a sua marcação de dentro para fora. A dupla de volantes se desloca com a bola, frequentemente escalonando sua posição, com o mais próximo preparado para se adiantar e ficar atrás do centroavante.
O posicionamento do jogador mais adiantado da dupla de volantes, entre os adversários, lhe permite defender um pouco à frente do lateral mais próximo e tomar uma decisão sobre quem pressionar em função do seguinte passe do rival (abaixo). Os laterais pressionarão com agressividade se o rival superar a primeira linha e acionar um homem pelo lado.
O outro volante cobrirá os corredores centrais, pronto para se deslocar entre os zagueiros, especialmente se um dos zagueiros abertos for arrastado ao lado oposto do campo quando o lateral se adiantar para pressionar. O lateral mais distante vai estreitar o campo, oferecendo mais proteção à frente dos zagueiros nos espaços centrais. Isso também anima a dupla de volantes a ser mais agressiva com seu posicionamento escalonado e em suas decisões de avançar e pressionar a bola.
Armadilhas por fora
Quando o adversário domina a posse de bola e o Sporting não consegue fazer uma pressão
alta, a equipe costuma variar sua estrutura a um 5-2-3, apesar de também adotar, por vezes, um 5-4-1. A equipe segue priorizando a proteção dos espaços centrais. Proteger o centro do campo permanece como a prioridade do Sporting, com um bloco 5-2-3 que, naturalmente, força o jogo do rival pelos lados. Aqui, a equipe de Amorim exibe uma armadilha de pressão.
Quando a primeira linha induz a saída de bola pelos lados, o lateral correspondente salta da linha de cinco, enquanto o outro permanece em posição, agora em linha de quatro, para proteger a segunda trave (abaixo). A dupla de volantes, por sua vez, faz o balanço defensivo para manter o jogo bloqueado por um dos lados. É menos provável que os jogadores da segunda linha escalonem suas posições nessas situações, uma vez que o intuito principal é evitar que o adversário volte a jogar por dentro.
Enquanto o lateral avança na marcação, o zagueiro mais próximo se mantém preparado para uma eventual cobertura pelo lado. Os demais componentes da linha defensiva se posicionam para competir em eventuais duelos aéreos ou inversões de jogo.
A primeira linha segue trabalhando para pressionar a saída de bola - especialmente os dois extremos -, com o atacante mais próximo à jogada pressionando por trás para tentar bloquear uma saída por fora.
Já o centroavante mantém sua posição para tentar evitar que os passes entrem pelo meio do bloco de marcação, e o atacante mais distante da bola adaptará sua posição em função dos pontos fortes do adversário. Se o rival for bom nas inversões de jogo, o extremo recuará à segunda linha. No entanto, quando Amorim opta por uma postura mais agressiva, o extremo permanecerá mais à frente, pronto para uma transição rápida ou para pressionar alto quando o adversário faz um passe mais arriscado. O futebol proativo de Rúben Amorim tem gerado muitas avaliações positivas sobre seu futuro. Será interessante ver aonde pode chegar.