Portugués 9 min read

Simone Inzaghi: variações táticas

Simone Inzaghi: variações táticas
Getty Images
Redacción
The Coaches' Voice
Publicado el
junio 8 2023

Disciplinado e eficaz como jogador, Simone Inzaghi trouxe consigo esses princípios à sua carreira de treinador. Primeiro, na Lazio (2015-2021), clube que teve um passado brilhante como atleta. Depois de uma longa trajetória de formação e consolidação da equipe da capital italiana, Inzaghi desembarcou na Inter de Milão, em junho de 2021, para dar forma à nova fase do clube após a saída de Antonio Conte.

Desde então, a Inter se tornou um time especialista em competições eliminatórias. Em seus primeiros meses em Milão, a Inter venceu a Supercopa da Itália, e conquistaria também a Coppa Italia na temporada 2021/22. Enquanto isso, terminou a Serie A na segunda colocação. Em 2022/23, a Inter voltou a vencer a Coppa Italia, além de ter chegada à final da Liga dos Campeões da Europa. Algo que pouca gente apontava como factível no início da temporada,  e que a Inter não alcançava desde 2010, quando era comandada por José Mourinho.

Antes da decisão da Champions League contra o City, nossos especialistas analisam as principais características táticas do técnico da Inter de Milão.

Estilo de jogo

O 3-5-2 é o sistema que caracteriza Simone Inzaghi na direção de suas equipes. Um sistema em que os movimentos e espaços ocupados por seus atacantes são de grande importância. Na Inter, Edin Dzeko, Romelu Lukaku e Lautaro Martínez se alternam nas duas posições no ataque. Quase sempre, uma dessas posições fica com o atacante argentino. São três jogadores com características distintas, mas com o ponto comum de aportarem um número significativo de gols.

Em termos de movimentação no ataque, enquanto Martínez tem mais liberdade para ocasionalmente cair para os lados ou perder altura para se conectar com o meio-campo, Dzeko e Lukaku são dois atacantes mais posicionais, com um raio de ação menor: essencialmente a zona central do último terço do campo. Dzeko e Lukaku também são atacantes muito eficientes nos duelos aéreos. Além disso, a grande facilidade que ambos têm em jogar de costas para o gol permite a Martínez ser menos vigiado pelos zagueiros rivais, facilitando, assim, sua busca pelos espaços liberados por seus companheiros (abaixo).

Outra das qualidades do 3-5-2 de Inzaghi, ao jogar com dois atacante, é fixar os zagueiros adversários e dificultar com que saltem à zona dos meias. Uma vez fixada a linha defensiva rival, outro fator importante, que permite que os dois atacantes se relacionem, é a movimentação contínua que oferecem, tanto para apoiar a construção, quanto com corridas em profundidade. Geralmente, Martínez recua seu posicionamento para dar opção de passe, ao mesmo tempo em que o outro atacante agride o espaço às costas dos zagueiros. Esses são os mecanismos que os atacantes costumam utilizar.

A força física e a grande capacidade de jogar de costas de Lukaku e Dzeko permitem à Inter um jogo vertical quando o time está sob grande pressão. Mais do que um recurso pontual, o jogo direto, vertical, é uma grande virtude que a Inter costuma aproveitar com eficácia.

André Onana, o primeiro atacante

A Inter tem, como principal compromisso, sair jogando desde a defesa para avançar com a bola controlada. Por isso, Simone Inzaghi tem em seu goleiro, André Onana, o primeiro jogador a iniciar o ataque.

Com um excelente jogo com os pés e assumindo riscos quando necessário, o goleiro camaronês cumpre com perfeição a função que lhe é confiada pelo treinador. Ou seja, temporizar o jogo, com a bola nos pés, à espera dos movimentos dos companheiros e da pressão rival para encontrar o homem livre. Isso pode ocorrer através de um passe ou buscando o terceiro homem que apareça em condições de receber a bola (abaixo).

Mas Onana não se destaca apenas na saída de bola por dentro. Ele também tem um amplo repertório de bolas longas, conseguindo conectar-se facilmente com os laterais. Denzel Dumfries, na direita, e Robin Gosens, na esquerda, são os jogadores que viabilizam a amplitude à equipe, e costumam ser os principais destinatários dos lançamentos de Onana. Porém, quando o goleiro da Inter não encontra alternativa nem por dentro, filtrando passes, nem por fora, à procura dos homens de lado, a bola longa passa a ser opção, sempre em direção a Lukaku ou Dzeko.

Essa facilidade de Onana em jogar com os pés é um ótimo complemento para suas funções principais, como goleiro. Inzaghi apostou no francês nesta temporada 2022/23, em detrimento da experiência de Samir Handanovic. Uma temporada em que Onana, muito além de sua capacidade de jogar com os pés, atingiu a maturidade embaixo das traves. E ganhou mais confiança na hora de sair do gol nas bolas aéreas.

Andre Onana Simone Inzaghi

Nicolò Barella, o último trequartista

O jogador diferencial no esquema de Simone Inzaghi é Nicolò Barella. Um meio-campista que tem a total confiança do treinador, a quem Inzaghi entrega a batuta da equipa. Na função de trequartista, Barella pode ocupar todas as posições do meio-campo. Mas onde mostrou mais potencial foi à frente do meio-campista posicional, atuando atrás dos dois atacantes. Precisamente os dois atacantes —a sociedade Martínez e Dzeko ou Martínez e Lukaku— são os principais beneficiários da qualidade e visão de jogo do jogador da seleção italiana.

Barella domina os principais recursos de um meio-campista: bom controle de bola, capacidade de dar passes precisos, de girar entre as linhas de marcação, além de um bom senso de antecipação defensiva. Tudo isso faz dele o verdadeiro motor do jogo da Inter, sempre apoiado por Hakan Çalhanoglu e Marcelo Brozovic. Estes três atletas costumam dominar as partidas, devido à grande capacidade que têm em combinar da melhor maneira as suas características ofensivas e defensivas.

A zona onde Barella oferece sua melhor versão é em frente à área rival (abaixo). Sua conexão com Çalhanoglu é um dos pontos fortes que Simone Inzaghi conseguiu consolidar. Os dois meio-campistas apoiam o time em todos os níveis e suas combinações fazem do meio-campo da Inter um dos pontos mais potentes da equipe.

Sem bola, Barella é um jogador de grandes sacrifícios. Ele exerce uma grande pressão pós-perda e, embora a sua principal função seja ordenar o jogo através da bola, não se esquiva de correr atrás dela para recuperar a posse.

Três zagueiros: ocupar a área e ter um jogador a mais na saída de bola

São vários os fatores que fazem Simone Inzaghi optar por uma linha de três zagueiros. Seja na fase defensiva ou ofensiva, o técnico italiano entende que precisa de três defensores para ocupar os espaços da melhor maneira e ganhar segurança em sua área. Aqui, Inzaghi busca ter no mínimo três jogadores para proteger a área de qualquer cruzamento lateral e controlar as demais situações defensivas.

Os três zagueiros mais frequentes na equipe titular de Inzaghi são: Francesco Acerbi, Alessandro Bastoni e Stefan de Vrij. Com muita força física e um ótimo aproveitamento nos duelos aéreos, estes três zagueiros, a quem também se soma Milan Skriniar, executam com perfeição o sistema idealizado pelo treinador.

Os três defensores também têm qualidade com a bola nos pés. Estão habituados a correr riscos na zona de iniciação das jogadas e têm capacidade para superar linhas de pressão através de passes filtrados para a segunda linha. Além disso, com três zagueiros e a contribuição do goleiro Onana, a Inter costuma ter mais jogadores que o adversário na zona inicial de suas construções. Portanto, consegue circular a bola até encontrar o homem livre ou sair conduzindopara exercer superioridades na linha seguinte.

Um dos momentos efetivos de jogar com três zagueiros, que Simone Inzaghi busca com esse sistema, é que, em determinados momentos, um dos zagueiros pode se distanciar de sua posição para perseguir atacantes rivais. São incentivados a isso, uma vez que contam com a cobertura dos outros dois homens do setor. Algo fundamental nas situações nas quais o zagueiro que saiu de posição é superado.

Apesar das vantagens mencionadas, o 3-5-2 também apresenta deficiências que impedem a Inter de controlar todas as facetas do jogo. Uma das principais é o espaço que se produz entre zagueiro e ala, devido à amplitude dos alas e do fato de ter zagueiros ousados na hora de saltar à pressão sobre o adversário.

Tres zagueiros Simone Inzaghi

Pressão alta

Sem fazer muitas alterações em sua estrutura 3-5-2, a Inter costuma tentar roubar a bola no campo adversário e ser vertical diante de equipes que buscam sair jogando de trás. Para isso, a sua primeira linha de pressão é composta pelos dois atacantes, que tentam orientar o jogo adversário aos lados do campo. Uma zona onde os alas avançam agressivamente, emparelhando-se com os laterais ou alas do adversário, para forçar a perda de bola.

Corajoso na hora de subir seu time para pressionar e ciente de que esta atitude criará muito espaço às costas dos zagueiros (abaixo), Simone Inzaghi pede uma marcação individualizada por dentro, para evitar passes entre as linhas ou a conexão com os meio-campistas rivais. Neutraliza assim o jogo do adversário em zonas interiores. Tampouco modifica muito o desenho tático quando a Inter avança consideravelmente suas linhas para pressionar, mas o esquema passa a ser um 3-3-4. Desta forma, dificulta que a primeira linha do rival saia jogando comodamente.

Simone Inzaghi pressao alta

A pressão alta é outra das marcas registradas do treinador italiano na direção de suas equipes. Se na Lazio já havia obtido muito sucesso desta forma, na Inter foi ainda mais longe. Fez da pressão alta uma das grandes armas táticas da equipe finalista da Champions League 2022/23.