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3-5-2: cinco chaves para sua execução

The Coaches' Voice
3-5-2: cinco chaves para sua execução
Getty Images
Redacción
The Coaches' Voice
Publicado el
agosto 22 2023

Muitas vezes apontado como um sistema tático de perfil defensivo, o 3-5-2 tem sido bastante utilizado por alguns dos principais treinadores do mundo. Por exemplo, o Manchester City, de Pep Guardiola, campeão da Champions League, terminou a temporada 2022/23 com essa organização no ataque. Por sua vez, o outro finalista da competição, a Inter de Milão, de Simone Inzaghi, utilizou o mesmo esquema tático em várias ocasiões, e não apenas como alternativa.

Assim como fez a Roma, de José Mourinho, que chegou à final da Liga Europa com o 3-5-2, deixando pelo caminho, entre outros adversários, o Bayer Leverkusen, de Xabi Alonso, que também adotou com frequência esse sistema. Rudi Garcia, agora treinador do Napoli, foi outro a utilizar o esquema tático em alguns momentos durante sua passagem pelo Lyon, como ele explica na Masterclass dada ao The Coaches' Voice (vídeo abaixo). Até o tradicional 4-4-2 de Diego Pablo Simeone, no Atlético de Madrid, se viu preterido pelo 3-5-2 em diversas ocasiões nas últimas temporadas.

No entanto, vale ressaltar que foi o técnico Antonio Conte quem voltou a dar vida ao 3-5-2. Primeiro, à frente da Juventus e, depois, na Inter de Milão, no Chelsea e no Tottenham. Um sistema que rompeu com seu antigo estereótipo defensivo para ganhar um perfil ofensivo, principalmente por causa da atuação dos alas com a bola. No The Coaches’ Voice, mostramos as chaves para a sua execução.

A linha de 3

A linha de 3 atrás, geralmente formada por zagueiros, é fundamental para obter grandes vantagens em relação ao adversário em ambas as fases do jogo.

Com a bola, permite iniciar a construção ofensiva em superioridade, pois, em geral, exceto quando o oponente pressiona individualmente, é difícil encontrar mais de três jogadores rivais pressionando a primeira linha (abaixo). Se isso acontecer, a participação do goleiro pode criar a opção de ter um 4 contra 3.

3-5-2 da Manchester City

Em fase defensiva, a possibilidade de povoar o corredor central com três zagueiros facilita a proteção contra o jogo mais direto do adversário e sua progressão. Isso também permite que esses defensores saiam de suas posições para cobrir as laterais com segurança (abaixo).

Os movimentos de um zagueiro que se desloque para cobrir as costas do ala, em eventuais passes do adversário em profundidade, são acompanhados pelos outros dois zagueiros. Algo que permite aos três integrantes da linha defensiva arriscarem mais, já que têm a confiança de estarem protegidos pelos companheiros.

A possibilidade do ala se movimentar tanto com a linha de três quanto com a linha de meio-campistas confere um caráter mais ou menos defensivo ao sistema. Quando o ala oferece proteção às costas de um zagueiro, fortalece ainda mais o corredor central e impede que o adversário encontre espaços a serem explorados.

Dessa forma, o sistema praticamente se transforma em um bloco 4-4-2 com pressão na zona da bola. Uma estrutura que oferece proteção em relação aos contra-ataques rivais após a perda da posse. Isso por causa da ocupação no espaço mais direto em relação ao próprio gol, com mais jogadores do que o adversário no setor.

3-5-2 da Roma

Os alas

A atuação dos alas no 3-5-2 é fundamental e decisiva para se ter êxito nesta disposição tática, algo que é determinado pela altura que ocupem em campo.

Em uma posição mais alta no terreno de jogo, os alas se tornam quase pontas. Uma distribuição que confere ao 3-5-2 um caráter mais ofensivo e faz com que o oponente recue, gerando assim espaço ao lado dos meio-campistas adversários (abaixo). No entanto, se os alas se mantiverem recuados, pode resultar em uma linha de 5, ao lado dos zagueiros, e impedir o avanço da própria equipe e gerar espaços para o adversário.

Por isso, quando falamos do 3-5-2, é necessário diferenciar as equipes cujos alas avançam e permitem um jogo posicional (perfil ofensivo), e aquelas que esperam o adversário em seu próprio campo, sem tomar a iniciativa (perfil defensivo).

Porém, a maioria dos treinadores que utilizam o 3-5-2 o faz com alas de características bem ofensivas. Não apenas com bola, mas também na defesa. Eles devem ser os primeiros jogadores a pressionar a saída do adversário pelos lados, além de se mostrarem proativos para recuperar a posição caso a bola esteja no lado oposto.

Por outro lado, o trabalho dos alas no 3-5-2, assim como no caso dos zagueiros, tem uma alta complexidade. São necessários jogadores muito completos, com grande resistência física (costumam percorrer a maior distância em campo nos jogos), rápidos, capazes de progredir e fazer cruzamentos, e com habilidades defensivas para o 1x1, além de proteger a própria área.

Tudo isso faz com que sejam necessários jogadores com características muito específicas e destacadas para ocupar toda a lateral.

3-5-2 da Leverkusen

Acumular jogadores por dentro

A utilização de três meio-campistas, acompanhados pelos alas e por um dos atacantes gera uma alta densidade de jogadores entre as linhas. Isso permite ter uma variedade de opções de passe no jogo posicional.

Se esses jogadores interiores também oferecerem mobilidade (apoio às costas dos meio-campistas, deslocamentos às laterais e movimentações nos espaços), os defensores adversários terão que decidir se saem de suas zonas ou permanecem nelas. Uma dúvida que pode gerar oportunidades vantajosas com jogadores livres ou com espaços aproveitáveis tanto em passes curtos quanto em profundidade (abaixo).

No 3-5-2, os jogadores distantes da bola adquirem uma importância fundamental para condicionar os defensores adversários. Isso porque o posicionamento deles atrai marcações que desguarnecem as áreas próximas ao detentor da bola. O que se traduz em vantagem de espaço e tempo para o receptor da bola.

Em fase defensiva, o acúmulo de jogadores por dentro permite que os meio-campistas, assim como os defensores, ocupem o mesmo espaço no campo de jogo sem a necessidade de percorrer tantos metros. Isso possibilita maior eficácia, uma vez que se protege a linha reta até a baliza com mais jogadores. E traz ainda mais eficiência, já que o desgaste é menor.

Os movimentos dos jogadores interiores no 3-5-2 têm como objetivo principal cobrir as costas do ala que pressiona. Isso deixa a lateral oposta livre para que se intensifique a pressão na zona da bola.

Versatilidade ofensiva

Um dos principais benefícios do 3-5-2 é alcançar uma ocupação racional do terreno de jogo. O que se traduz em uma ampla versatilidade ofensiva, que complica a tarefa defensiva do adversário.

São muitas as equipes que, sob este sistema, desenvolvem um jogo posicional combinativo. Elas o fazem com superioridade no primeiro terço do campo e apoios nas linhas seguintes com vantagem numérica e posicional. Mas também podem fazê-lo sob uma progressão rápida, com opções para deslocar a bola o mais rapidamente possível à lateral, com os alas preparados para recebê-la do meio-campo para a frente.

Dentro da variabilidade ofensiva proporcionada pelo 3-5-2, também aparece o jogo mais direto. Com dois atacantes preparados para disputar a bola e para atacar o espaço (abaixo). Os atacantes contarão sempre com o apoio dos alas e dos demais homens da segunda linha.

Organização defensiva

O 3-5-2 permite potencializar a defesa. Mas, para isto, é necessário cumprir certas características. Uma delas é que a disposição de três zagueiros proporcione proteção aos contra-ataques adversários. É interessante que a esses três zagueiros se juntem um ou dois meio-campistas posicionais. Com duas linhas de vigilância, prontas para agir nas perdas da posse de bola, as chances de o adversário tirar proveito das ações de contra-ataque são consideravelmente reduzidas.

A participação dos alas quando a equipe perde a posse de bola também é fundamental. Com essa capacidade de mudar a mentalidade quando o rival recupera a bola, o ala mais próximo da bola pode pressionar enquanto o outro se desloca para proteger as costas dos zagueiros. Esse movimento é a chave do sistema defensivo (abaixo).

Por outro lado, a orientação da pressão em direção às laterais deve ser feita de maneira simples. Isso porque o adversário não tem espaço por dentro. Com os dois atacantes e os três meio-campistas por trás, cria-se um funil que visa forçar o oponente a jogar pelas laterais. Uma zona onde os alas estão prontos para iniciar a pressão e roubar a bola.