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Thiago Motta: táticas e sistemas

Thiago Motta: táticas e sistemas
Getty Images
Redacción
The Coaches' Voice
Publicado el
febrero 22 2024

Thiago motta

Bologna, 2022-Presente

O nome de Thiago Motta se tornou um dos mais proeminentes da Serie A por seu ótimo desempenho no banco de reservas. Primeiro, no comando do Spezia (2021/22), um clube modesto que ele manteve na primeira divisão; e desde 2022, com o Bologna, equipe que tem frequentado as primeiras posição da classificação. Mas seu nome também atraiu a atenção de técnicos experientes, principalmente Carlo Ancelotti, que foi treinador de Motta. "Gosto muito da maneira como seu time joga", disse o comandante do Real Madrid quando perguntado, em uma coletiva de imprensa, sobre quais jovens treinadores admira - Ancelotti também incluiu Xabi Alonso em sua lista.

Motta, como ocorre com muitos técnicos, é um produto das influências que teve como atleta. Embora, em seu caso, elas tenham vindo de filosofias de jogo bem diferentes entre si. Além do notável período com Ancelotti no PSG, ele também foi treinado por José Mourinho (na Inter de Milão), Frank Rijkaard (no Barcelona), Unai Emery (PSG) e Gian Piero Gasperini (Genoa). Essa mescla resultou em um jovem treinador muito equilibrado, mas que também tem abordagens revolucionárias. Por exemplo, o sistema 2-7-2 que introduziu na equipe juvenil do PSG. Um sistema que nossos especialistas analisam neste relatório sobre Motta, bem como seu trabalho no Genoa, Spezia e Bologna.

Ousadia tática

Motta começou a carreira de treinador na equipe sub-19 do PSG, seu último clube como jogador, onde ficou por sete temporadas (2011-2018). Em outras palavras, iniciou o novo percurso em um ambiente familiar, algo que o ajudou a apresentar suas ideias, sabendo que teria tempo e paciência para desenvolvê-las. E Motta certamente o fez, com uma surpreendente variação 2-7-2 em fase ofensiva.

"Eu conto com o goleiro entre os 7 do meio-campo. Para mim, o atacante é o primeiro defensor e o goleiro é o primeiro atacante. O goleiro é quem inicia a jogada, com o pé, e os atacantes são os primeiros a pressionar para recuperar a bola", explicou Motta, em coletiva de imprensa, quando perguntado sobre essa inovadora abordagem tática.

A ideia de organização no sub-19 do PSG, do 4-3-3 - sistema inicial - para a variante 2-7-2, se baseava no deslocamento de um dos meio-campistas à linha de frente, ao lado do centroavante.  Enquanto os pontas passavam a ocupar corredores internos, se aproximando dos meio-campistas, deixando todo o corredor externo aos laterais. Mais atrás, o volante formava um triângulo com os meio-campistas interiores na faixa central e, por fim, o goleiro ficava sempre disponível para participar da construção da jogada (abaixo).

2-7-2 do Thiago Motta no PSG u19

É importante ressaltar que a principal vantagem do 2-7-2 usado por Motta no sub-19 do PSG era ter um jogador a mais no circuito de passes. O que ajudava a equipe nas primeiras combinações no campo defensivo, já que havia mais linhas de passe e uma evidente superioridade numérica em relação ao adversário.

Como resultado, os adversários tentavam agrupar seu sistema defensivo, mas quando saltavam para pressionar, a equipe de Motta encontrava espaço no centro do campo, onde conseguia fazer ações de terceiro homem e avançar com bola ao campo adversário (abaixo).

Ataque no PSG de Thiago Motta no PSG U19

Genoa, o primeiro passo

Thiago Motta deu seu primeiro passo como técnico de um time principal no Genoa. Foram apenas dez jogos no comando, mas que serviram para mostrar detalhes táticos importantes na condução de suas equipes.

O primeiro deles foi o sistema tático, com o 4-2-3-1 como base ofensiva e defensiva para enfrentar seus adversários (abaixo). O Genoa era um time vistoso, com bons mecanismos de ataque, como também foi o caso de sua experiência no sub-19 do PSG. A ideia passava por controlar o jogo por meio da posse de bola, com cinco jogadores na zona de criação: dois volantes e outros três meio-campistas. Esses cinco jogadores tinham de se posicionar em posições escalonadas e entre linhas.

O Genoa de Motta mostrou uma versão mais vertical do que tinha com treinadores anteriores. No entanto, também era uma equipe que perdia muitas bolas em zona de criação. Essas perdas dificultaram a criação de perigo aos adversários por meio de sua ideia de jogo, baseada em três fatores: domínio da posse, alto envolvimento dos jogadores com a bola e as mudanças de ritmo.

4-2-3-1 de thiago Motta no Genoa

Na defesa e na transição defensiva, Motta não conseguiu estruturar sua equipe da maneira correta no 4-2-3-1. Esses problemas defensivos se traduziram em um alto número de gols sofridos (17), principalmente depois de perder a bola em zona de criação.

A configuração defensiva do Genoa no bloco médio se mostrava muito comprometida, ou seja, com problemas em seus deslocamentos. Os laterais tinha dificuldades para identificar os momentos oportunos de saltar à pressão ao lateral rival. O que forçava o volante mais próximo a fazer a cobertura. Esse movimento do volante gerava um espaço livre na zona interna, onde os adversários chegavam em situações de igualdade numérica e vantagem posicional em relação aos zagueiros do Genoa (abaixo).

Adaptações do sistema no Spezia

Depois do Genoa e da aprendizagem que teve em sua primeira experiência no mais alto nível, Thiago Motta optou por assumir o comando do Spezia, em 2021. Uma equipe que almejava a permanência na Serie A. Foi um trabalho que Motta precisou gerir as deficiências do elenco, incluindo limitadas opções no meio-campo.

Com essa carência no setor, Motta optou por converter vários jogadores. Jakub Kiwior foi um deles, passando da zaga para o meio-campo. O lateral-direito Jacopo Sala também virou meio-campista, assim como Simone Bastoni, que trocou a lateral esquerda pelo meio-campo. David Strelec era ponta e foi outro que migrou para a linha central.

Motta, porém, também corrigiu a falta de pessoal no meio-campo por meio de uma variação nos sistemas. Assim, o Spezia jogou no 4-1-4-1, no 3-5-2 e no 5-3-2, sendo este último o sistema em que a equipe melhor se encaixou. No 5-3-2, e apesar de ceder espaços exteriores em fase defensiva e no bloco médio, a equipe gerava superioridades numéricas que impediam o adversário de criar perigo com cruzamentos laterais (abaixo).

No início da construção, Thiago Motta posicionava os zagueiros na mesmo altura do goleiro. O objetivo era dividir a primeira linha de marcação dos rivais que os pressionavam em bloco alto. Dessa forma, o Spezia ganhava espaço às costas dos pontas adversários. Justamente nas áreas onde os laterais estavam posicionados para receber o passe do goleiro, superando assim, com um passe simples, a primeira linha de pressão do adversário.

À frente, os três meio-campistas ficavam escalonados e faziam intercâmbio de posições entre si. Um deles recuava para apoiar os zagueiros, por trás do centroavante rival. Enquanto os outros dois se mantinham sempre ativos para dar apoio aos laterais (abaixo).

No meio-campo, o Spezia era uma equipe que se destacava pelo controle posicional em fase ofensiva. Um de seus mecanismos mais proeminentes era atrair o rival por meio de triangulações em um lado do campo. O objetivo era liberar o lateral do outro lado. Assim, o Spezia conseguia chegar à zonas de finalização pelos corredores externos.

Para isso, os três meio-campistas convidavam os defensores rivais a pressioná-los, com trocas de passes curtos, que visavam desestabilizar a defesa e gerar espaço livre do lado oposto. Momento em que a inversão - mudança de ritmo - tornava-se evidente, a fim de aproveitar esse desajuste do adversário e colocar a bola na área rival com cruzamentos laterais para os atacantes (abaixo).

No meio-campo, Motta também utilizou uma variante para jogar por fora, adiantando os três meio-campistas. Assim, os zagueiros do Spezia atraíam a marcação adversária, junto com os meio-campistas, circulando a bola em um setor.

Uma vez que conseguiam induzir o rival a um dos lados, os zagueiros buscavam um passe na direção do centroavante, que vinha dar apoio. A ideia era que esse jogador habilitasse um passe entre os zagueiros adversários, espaço que seria explorado por um jogador da segunda linha , já em zona de finalização (abaixo).

Bologna: posse, triangulações e fluidez

Thiago Motta implementou um sistema versátil no Bologna, usando o 4-2-3-1 como sua formação principal. É o desenho tático com a qual se sente mais confortável na direção de suas equipes.

A partir do 4-2-3-1, o Bologna muda de acordo com o adversário e com os jogadores que Motta tem à disposição. Ele experimentou variantes como o 4-5-1 e o 4-3-3, com esta última formação se transformando num 2-3-2-3 em fase ofensiva (abaixo).

Os jogadores têm um caráter posicional, com movimentos em função da bola e dos espaços criados pelo adversário perto da linha da bola. Os jogadores também se conectam por meio de triangulações para superar a configuração defensiva do adversário, atraindo os defensores com intuito de liberar o lado mais frágil da defesa.

No início da construção, a flexibilidade posicional dos jogadores está relacionada à criação, ocupação e exploração dos espaços internos gerados pelo adversário e pelos próprios companheiros de equipe. O objetivo de Motta, no início de jogo do Bologna, é superar as linhas rivais. Sempre com o controle da bola e sem correr riscos para não perdê-la.

Para isso, geralmente o lateral-esquerdo Victor Kristiansen se move para a faixa interna. Dessa forma, ele aproveita o espaço criado anteriormente por Remo Freuler e faz contato com Sam Beukema atrás de uma linha de marcação do adversário. Depois de superar a primeira linha de pressão rival, o ritmo de jogo do Bologna aumenta com conduções de bola interiores, que atraem defensores e liberam os pontas já no campo adversário (abaixo).

Saída da bola de Thiago motta no Bologna

Ao pressionar o rival, a linha defensiva do Bologna adianta sua posição e a equipe se divide em um 4-2-4. Dessa forma, tenta induzir o início da construção do adversário às faixas laterais. Na sequência, os jogadores de Thiago Motta se agrupam e fixam os principais receptores de bola do adversário, tanto os mais próximos da bola, quanto o centroavante e o meia. A ideia é forçar um jogo direto do adversário ou um erro se a opção do rival for um passe curto por dentro.

Os dois volantes, por sua vez, se deslocam para perto da jogada. Fechando, assim, os espaços intermediários na faixa central, além de controlarem todo o espaço que os adversários podem ocupar em seu próprio campo (abaixo).

Defensa do Bologna de Thiago Motta

Um detalhe tático fundamental no Bologna é o rigor, a ordem na fase defensiva e os momentos de transição no campo do adversário. Característica que o torna um dos melhores times da Serie A em recuperação de bola tanto no campo rival, quanto em seu próprio campo (média de 53,92 por jogo). Um número que ajuda a entender o alto rendimento que Motta está alcançando no clube italiano.