Lionel Scaloni
Seleção Nacional da Argentina, 2018-Presente
O perfil:
Lionel Scaloni representa um caso singular no futebol ao comandar uma das seleções mais importantes do mundo, Argentina, sem ter vivido nenhuma experiência prévia em cargo similar. Ele começou a trabalhar na seleção 'albiceleste' como membro da comissão técnica de Jorge Sampaoli, e tinha como função analisar os adversários na Copa do Mundo de 2018. Depois, virou técnico da equipe sub-20 da Argentina.
Durou pouco sua experiência na base, uma vez que foi chamado para assumir interinamente o comando da equipe principal, no fim de 2018. Foi efetivado no cargo antes da Copa América do ano seguinte. A terceira colocação na competição, somada a seu bom relacionamento com os jogadores, fizeram com que permanecesse no cargo. “Comecei pelo topo e muitos que queriam estar aqui nunca tiveram a oportunidade. Aconteceu para mim e sou eternamente grato”, disse Scaloni.
Estilo de jogo:
Scaloni tem adotado como esquema tático principal o 4-4-2 (abaixo), com a utilização, em algumas escalações iniciais, de jogadores com características de zagueiros na posição de lateral-direito. Assim, dispõe de três atletas na primeira linha na iniciação do jogo. Por outro lado, perde a necessária amplitude para progredir pela direita.
Do outro lado do campo, o lateral-esquerdo mantém uma posição avançada e, na maioria das ações ofensivas, é o jogador que se posiciona por fora, enquanto o meio-campista deste mesmo lado esquerdo aparece por dentro para gerar espaços e tentar habilitar possíveis linhas de passe.
Quando a progressão da jogada chega ao corredor central tendo como origem o lado direito, nesses casos o lateral-esquerdo ataca por dentro, seja conduzindo a bola ou atacando o espaço entre linhas, com o meia correspondente mantendo a amplitude contra a última linha rival.
Com a bola, a intenção principal da Argentina é a de tomar a iniciativa, valorizar a posse e circular a bola com paciência na iniciação das jogadas, mantendo distâncias cautelosas entre todos os jogadores. Porém, algumas vezes a ocupação de espaços no ataque não é a ideal, uma vez que muitos jogadores se posicionam próximos da bola ou atrás da linha de passe. Algo que, somado à mencionada falta de amplitude na saída de bola, provoca uma dificuldade para a equipe superar a defesa rival, sobretudo contra adversários posicionados com linhas baixas de marcação.
Nas saídas de tiro de meta ou em situações nas quais o goleiro participa da construção, os zagueiros baixam suas posições e um dos volantes faz o mesmo para que a equipe consiga superar a primeira linha de pressão rival através de uma vantagem numérica, normalmente de 4 contra 2 (abaixo). Quando o adversário intensifica a pressão, a Argentina costuma tentar ligações diretas com os laterais ou até com os homens de frente posicionados pelos lados do campo.
Quando o rival utiliza um bloqueio médio de marcação, a Argentina mantém sua estrutura no 4-4-2, com um posicionamento conservador de seus volantes e com pelo menos um de seus laterais à frente da linha de meio-campistas do adversário, para ser opção ofensiva numa progressão de contexto favorável.
Os dois atacantes centralizados alternam suas posições, sendo Lautaro Martínez quem geralmente se mantém como o jogador mais avançado, deixando a Lionel Messi uma maior liberdade em suas tarefas táticas ofensivas. O craque do Barcelona busca participar da gestação das jogadas de ataque, principalmente quando ocorrem pelo corredor central direito, posição que também costuma atacar em profundidade, aproveitando o espaço entre o zagueiro e o lateral que atuam pelo lado esquerdo rival (abaixo). Uma movimentação recorrente quando Leandro Paredes dispõe de espaço e tempo para buscar o passe em profundidade, nas costas da defesa adversária.
Como ocorreu durante a Copa América de 2019, também disputada no Brasil, Scaloni decidiu modificar o esquema para um 4-3-3 na edição de 2021, com a inclusão de Nicolás González como atacante aberto pela esquerda, posição ocupada por Sergio Agüero na competição anterior. Porém, a função deles não é exatamente igual, já que Agüero partia da ponta para se juntar a Martínez como segundo atacante quando a Argentina tinha a bola, enquanto González se mantém aberto para gerar amplitude.
Messi, por sua vez, tem adotado, com a presença de González, um posicionamento mais centralizado nos últimos metros do campo. Sempre, porém, com liberdade de movimento para encontrar o espaço livre e participar da criação das jogadas.
Com o 4-3-3 utilizado na Copa América de 2019, a equipe argentina se caracterizou pela centralização de seus ataques e pela busca de combinações em espaços reduzidos. Os homens de frente, Messi, Martínez e Agüero, também geraram ações de perigo depois de uma intensa pressão no campo rival, forçando erros na saída de bola adversária, que acabaram como finalizações a gol. Como ocorreu, por exemplo, no gol de Martínez contra o Catar, na terceira rodada da fase de grupos.
Nesta edição de 2021, a Argentina mantém o conceito de buscar combinações em curtos espaços, assim como a predileção para atacar por dentro. Mas, agora, tem ainda a alternativa de uma chegada mais agressiva pelo lado esquerdo com González (abaixo), jogador de muito potencial nas situações de um contra um.
São recorrentes na Argentina as finalizações de média distância, assim como as tentativas de penetração por dentro e os cruzamentos pelos lados - mesmo que não aconteçam da linha de fundo, costumam ter a intenção de que o destino da bola seja a zona entre os zagueiros e o goleiro.
A recente aparição de Cristian Romero na zaga, atleta que se destaca na fase ofensiva pela qualidade no passe curto e de média distância, não apenas contribuiu com melhorias na saída de bola, mas também proporcionou ao time uma nova arma ofensiva nas jogadas de bola parada, uma das forças da seleção 'albiceleste'.
Nas jogadas de bola parada no ataque, Messi é o encarregado de cobrar as faltas nas zonas com possibilidade de chutar a gol. E nas jogadas de cruzamentos, sejam em faltas ou escanteios, os cobradores são Messi, Paredes ou Rodrigo De Paul, que oferecem a opção de cruzamentos abertos ou fechados de ambos os lados.
Nessas ações (abaixo), a Argentina geralmente ocupa a área com uma estrutura numérica de cinco jogadores, atacando de forma escalonada. Posicionando seus melhores cabeceadores, Nicolás González, Nicolás Otamendi, Martínez e Romero, na zona da primeira trave. Na zona de rebote, ficam dois jogadores.
Esses atletas atentos a uma segunda bola, têm esporadicamente uma participação reativa nas jogadas, seja atraindo a marcação rival ou gerando espaço para um companheiro que chega como elemento surpresa. Outra alternativa que a equipe usa em jogadas de bola parada no ataque é a cobrança curta, visando obter uma vantagem numérica de dois contra um para, então, realizar com rapidez um cruzamento fechado.
Fase defensiva e pressão:
A intenção da Argentina após a perda de bola é pressionar para, pelo menos, induzir o rival a progredir pelos lados. O posicionamento dos volantes em fase ofensiva favorece a possibilidade de manter a equipe equilibrada para tentar recuperar a posse imediatamente ou atrasar o contra-ataque adversário.
Com a defesa organizada em bloqueio médio-baixo, Scaloni mantém o esquema 4-4-2 inicial (abaixo), com uma pressão muito agressiva nos corredores centrais para forçar o rival a jogar pelos lados, situação esta que faz com que os atacantes da equipe 'albiceleste' se separem da linha de meio-campistas para participar de forma reativa quando o time recupera a bola.
Em muitas situações em sua fase defensiva, a equipe prefere manter os duelos de marcação, isto é, sem alterar o marcador quando o atleta rival progride com a bola. Por exemplo, quando o ponta rival ingressa em corredores centrais, é perseguido pelo lateral da Argentina que costuma ir até o fim da jogada nesta marcação individual. Por sua vez, os zagueiros argentinos são agressivos na antecipação e buscam manter o time compacto a todo momento.
Nos casos que vai pressionar a saída de bola rival, o principal padrão da seleção argentina é adiantar os meio-campistas ofensivos para pressionarem os zagueiros ou laterais adversários mais abertos. Assim, quando o goleiro rival consegue fazer o passe por dentro, entre os dois atacantes argentinos, os volantes ficam encarregados de cobrir esse espaço central (abaixo).
Enquanto isso, os laterais permanecem em vigilância do jogador livre na segunda linha rival, deslocando-se à marcação apenas se houver real possibilidade de que receba o passe. Em ato subsequente, os demais atletas da última linha ficam momentaneamente na marcação homem a homem, até que a equipe se reestruture defensivamente.
Nas vezes que Scaloni decidiu jogar num 4-3-3, a tendência no momento de armar um bloqueio médio defensivo foi a de reestruturar o time num 4-4-2, com um dos atacantes se inserindo na linha dos meio-campistas. Uma função muito utilizada quando o papel de um dos atacantes abertos é desempenhado por um jogador com características de meio-campista, como De Paul, Acuña ou Nicolás González.
No que diz respeito às estratégias defensivas, o selecionador argentino também trabalha detalhadamente as ações de bola parada. Nos escanteios, normalmente opta por uma marcação homem a homem, somada à presença de outros três jogadores escalonados para marcar por zona. Uma estrutura que se modifica quando o adversário leva dois jogadores próximos à bola, obrigando assim que um desses três defensores 'por zona' saia para marcar a possível cobrança curta de escanteio.
Nas faltas laterais na altura da grande área, a Argentina mantém também a marcação homem a homem, enquanto nas faltas em zonas intermediárias, a opção é por uma marcação por zona na altura da entrada da área.
Entretanto, um dos grandes problemas apresentados pelo time de Scaloni é a dificuldade de segurar a vantagem no marcador. Algo que pode passar pela limitada função defensiva de alguns jogadores, o que obriga um esforço físico maior de outros e gera um desgaste coletivo com o decorrer dos minutos.
Redacción: Héctor García