Fernando Diníz
Fluminense, 2023-Presente
Fernando Diniz conseguiu criar no Fluminense um time com um estilo bastante reconhecível, com sua marca particular, que ficou conhecida como "Dinizismo". Um termo que, em resumo, se refere ao estilo ofensivo e técnico de suas equipes.
Essa abordagem levou o Flu a patamares provavelmente inesperados no início da temporada. Pouca gente apostava que a equipe chegaria à final da Copa Libertadores de 2023, façanha que o clube não atingia desde 2008, quando perdeu a decisão para a LDU, do Equador.
Dentro da proposta de jogo de Diniz, vale destacar a enorme contribuição dada por jogadores como Marcelo, Paulo Henrique Ganso e Felipe Melo. Todos eles em seus últimos estágios da carreira, mas ainda com grande desempenho coletivo.
Mas também é preciso ressaltar outros jogadores que, sob o comando de Diniz, atingiram suas melhores versões, como John Kennedy e Germán Cano. Antes da tão esperada final da Libertadores de 2023 contra o Boca Juniors, nossos especialistas apontam cinco chaves para o "Dinizismo" no Fluminense, um clube que busca conquistar a primeira Libertadores de sua história.
Recursos para superar a pressão rival na saída de bola
O estilo de jogo do Flu de Diniz pode ser identificado pela forma como a equipe inicia a saída de bola, sempre com três diretrizes: troca de passes, movimentação dos jogadores e a intenção de atrair os adversários.
Em primeiro lugar, quem tem a bola precisa ter várias opções de passes curtos, o que atrai os adversários que fazem a pressão e os distancia das áreas mais próximas ao gol (abaixo).
Para progredir, a equipe de Diniz mostra paciência na troca de passes, com o objetivo de esperar que o adversário pressione e, consequentemente, libere um companheiro de equipe. Ao mesmo tempo, os companheiros próximos de quem tem a bola devem estar em constante movimento para procurar áreas onde possam receber o passe, enquanto os companheiros distantes fixam outros adversários, criando espaços por todo o campo.
Dentro dessa movimentação dos jogadores na saída de bola, não importa quem ocupa cada zona. O importante é atrair o adversário para gerar espaços, que sejam ocupados por outros companheiros do Fluminense, e dar opções ao jogador com a bola.
Por outro lado, o Flu também opta, em algumas circunstâncias, por conexões diretas com os homens mais adiantados, tornando a saída longa uma outra opção de jogo (abaixo).
Acumulação de jogadores ao redor da bola
A característica mais significativa do Fluminense com a posse é o acúmulo de jogadores ao redor da bola. Significativa porque induz o adversário a escolher entre se aproximar da bola em bloco, deixando muito campo às costas da última linha e pressionar com alguns jogadores e manter outros longe da bola. O que gera espaços entre linhas, que podem ser aproveitados pela equipe de Diniz.
Para progredir com o acúmulo de jogadores próximos à bola, o Flu é um time paciente quando o adversário pressiona. O jogador com a bola atrai o adversário, enquanto os companheiros de equipe habilitam linhas de passe em diferentes ângulos (abaixo).
No 4-3-3, 4-4-2 ou 5-4-1, principais sistemas de Diniz, o técnico exige que seus jogadores, em fase ofensiva, se aproximem uns dos outros e os incentiva a trocar de posições. Nas movimentações de apoio e de ruptura, ou seja, afastando-se da bola, o Flu encontra espaço no momento em que um defensor adversário está ativo na pressão sobre a bola.
A equipe de Diniz também pode acumular jogadores longe da bola. Esses jogadores fazem com que o adversário se alongue e não consiga acumular tantos defensores perto da ação da jogada. Assim, se o jogador com a bola decidir por um passe longo, os companheiros mais distantes estarão prontos para receber o passe em uma possível situação vantajosa em relação ao marcador ou perto da área adversária (abaixo).
Pressão intensa em todo o campo
A pressão intensa em todo o campo é um dos principais fatores na faceta defensiva deste Fluminense. Isso também acontece quando Diniz joga com uma linha de cinco defensores, com quatro ou três meio-campistas à frente deles.
Essa pressão começa desde o tiro de meta, com a ideia de impedir a progressão do rival. Se o adversário for corajoso e optar por jogar curto, os atacantes são os responsáveis por iniciar a pressão e tentar roubar a bola ou provocar uma saída longa. Essas bolas longas do adversário são protegidas por uma linha defensiva adiantada do Flu e pelo posicionamento dos meio-campistas para recuperar as segundas bolas (abaixo).
De modo geral, a disposição tática do Tricolor sem a posse tem como objetivo roubar a bola o mais rápido possível. Isso é demonstrado por meio de um bloco compacto, que avança no terreno a cada bola dividida, bem como a cada passe para trás do adversário ou situação em que o adversário esteja de costas para a jogada (abaixo).
Por outro lado, a disposição tática de Diniz faz com que, se a equipe não conseguir roubar a bola na primeira pressão, pelo menos restringirá o espaço do adversário para jogar por dentro, uma vez que essa área estará protegida pelos meio-campistas e defensores.
A pressão do time de Diniz se torna efetiva com recuperações de bola perto da área adversária ou quando força um erro do rival. Mas, se o adversário conseguir romper a pressão, a linha defensiva alta do Flu está preparada para cobrir eventuais bolas lançadas às suas costas, e os meio-campistas para dar combate ou brigar por segundas bolas.
Além disso, a redução de espaço para o adversário, acuado em seu próprio campo e com pouca capacidade de manobra na posse de bola, muitas vezes dá ao time de Diniz o controle do jogo mesmo sem a bola.
Facilitar a recuperação pós-perda
A disposição bem ofensiva do Fluminense faz com que o time costume ter mais jogadores do que o adversário na zona onde perdeu a posse, sendo esta uma de suas principais características sem a bola.
Ao ter mais jogadores que o adversário para fazer a pressão pós-perda, a equipe de Diniz consegue uma superioridade numérica na zona, o que exige um esforço menor de seus jogadores, com deslocamentos mais curtos para cortar linhas de passe e pressionar o portador da bola (abaixo). Enquanto isso, os homens mais afastados podem recuar e cobrir zonas na faixa central de seu próprio campo, com intuito de dificultar o contra-ataque adversário.
Em momentos em que o Fluminense é submetido a situações de ataques posicionais, a equipe se agrupa na faixa central e dificulta que o adversário jogue por dentro, a fim de reduzir espaços e ativar a pressão.
Individualidades: Germán Cano e John Kenedy
Como vimos nas quatro chaves acima, o Flu é uma equipe com alto desempenho coletivo. O que consequentemente potencializa as individualidades, tendo jogadores que descobriram em si novas facetas ou até mesmo atingiram suas melhores versões sob a direção de Diniz.
Fábio é o goleiro titular. Além de seu bom desempenho entre as traves, ele tem tido participação no início das construções ofensivas, seja com passes curtos, médios ou até com bolas longas.
A dupla de zaga titular tem sido formada por Nino, jogador que Fernando Diniz incluiu em suas duas convocação até o momento para a seleção brasileira, e o experiente Felipe Melo. Mas outros tantos defensores tiveram importância no setor ao longo da temporada, como Marlon, David Braz, além de jogadores que Diniz improvisou na zaga em determinadas circunstâncias, como os meio-campistas André - outro que ganhou espaço na seleção com Diniz - e Thiago Santos.
Em um futebol de troca de passes curtos, são necessários jogadores com precisão neste fundamento e com bom controle de jogo para garantir o desenvolvimento das jogadas. André, Martinelli, Ganso e Alexsander têm sido os mais participativos nesse aspecto, com dois deles aparecendo frequentemente no meio-campo titular. A temporização de jogo que eles proporcionam, ou seja, o controle que oferecem à equipe, é fundamental para esse desenvolvimento das jogadas.
Mas, sem dúvidas, os jogadores mais decisivos para a eficácia do time têm sido aqueles que mais transformaram todas essas características do Fluminense em vitórias. Sobretudo Cano, autor de 12 gols até aqui na campanha da Libertadores, artilheiro absoluto da competição. E, mais recentemente, John Kennedy voltou a ganhar protagonismo, sendo decisivo em grandes jogos.
Ambos são jogadores com muita presença de área (acima), com grande capacidade de finalizar as jogadas, além de terem uma leitura apurada para decidir os momentos exatos para atacar cruzamentos laterais, passes em profundidade ou qualquer outra situação ofensiva.
Além disso, o trabalho de Cano e Kennedy em fixar os zagueiros adversários distantes da jogada é crucial, pois permite que seus companheiros de equipe tenham mais espaço e menos defensores perto da bola, enquanto eles próprios ficam mais próximos da área adversária para materializar as oportunidades. Vale ressaltar também a grande capacidade de Cano de finalizar as jogadas com um único toque na bola, além de seu excelente posicionamento. Kennedy (acima), por sua vez, é um atacante com rapidez em seus gestos e movimentos para encontrar o espaço para a finalização, que pode fazer com a duas pernas.