O que é a vigilância ofensiva?
Quando uma equipe ataca, posiciona vários jogadores para tentar construir e finalizar a jogada. Os demais membros do time fornecem apoio em torno da ação da jogada e atrás da linha de passe.
Esses jogadores que ficam atrás da linha de passe também podem ajudar a bloquear os adversários no último terço do campo, com uma mudança de orientação e, mais importante, podem impedir os contra-ataques rivais. Quando a equipe perde a posse, esses jogadores mais recuados se concentram em controlar os espaços.
Suas ações, posicionamentos, funções e responsabilidades constituem as "vigilâncias ofensivas" de uma equipe.
Normalmente, as equipes mantêm um equilíbrio quando atacam, ou seja, há cinco jogadores no ataque e cinco atrás da linha de passe, responsáveis pela vigilância ofensiva (abaixo). Quando uma equipe é mais assertiva ou tem pressa para fazer um gol, pode adotar uma estrutura diferente, por exemplo, deixando seis jogadores no ataque e quatro na vigilância ofensiva. Obviamente, a equipe inverterá essa disposição numérica quando priorizar os momentos em que perde a posse da bola.
Qual é a origem do termo "vigilância ofensiva”?
Vigiar se define como "observar algo atentamente para que aconteça como se deseja ou para simplesmente monitorar sua evolução e desenvolvimento". No futebol, a vigilância ofensiva significa monitorar os jogadores mais avançados do time adversário, a fim de estar preparado para uma eventual perda de bola.
Deve-se observar que esse conceito tático tem outras denominações em diferentes idiomas. Em inglês, por exemplo, é conhecido como rest defence, uma tradução direta da expressão alemã restverteidigung.
Como os jogadores podem garantir uma eficaz vigilância ofensiva?
Antes de a bola trocar de dono, os jogadores da equipe com bola devem gerenciar as distâncias e os posicionamentos entre si. O bloco de vigilância ofensiva precisa estar distante o suficiente para esticar o adversário, quebrar sua estrutura defensiva e ajudar a mover a bola para áreas onde o ataque inicial possa fluir e levar perigo.
Portanto, as distâncias gerenciadas pelo bloco de vigilância ofensiva também devem levar em conta a possibilidade de um contra-ataque. Quando o bloco está posicionado de forma mais estreita, como uma unidade compacta, é mais provável que feche as vias de passe mais perigosas à frente, forçando o adversário a jogar para trás e, consequentemente, aumentando a chance de sua equipe de executar uma pressão pós-perda bem-sucedida. No entanto, o bloco pode prejudicar o ataque de sua própria equipe se as distâncias em relação aos jogadores de frente forem muito curtas.
Uma vez que o bloco tiver administrado as distâncias adequadamente, recuperar a bola é muito importante. Uma equipe pode fazer isso por meio de duelos individuais, interceptações, ou aproveitando bolas soltas ou segundas bolas. Prever para onde a jogada pode ir em seguida também pode levar a uma vigilância ofensiva eficaz, assim como interpretar a orientação corporal, os movimentos e as qualidades do adversário, bem como manter uma comunicação constante.
Se uma equipe não conseguir recuperar a bola imediatamente após a perda da posse, a próxima etapa é temporizar o contra-ataque adversário para interromper seu avanço. Quanto mais tempo o adversário levar para construir seu ataque, mais tempo os jogadores terão para recuar e defender.
Se o bloco de vigilância ofensiva pressionar, temporizar e atrasar o jogo do adversário, os companheiros de equipe do bloco de ataque terão tempo para recuar. Eles geralmente pressionam às costas do adversário. Às vezes, esses mesmos jogadores podem recuperar a posse e criar um novo ataque. Se não for possível recuperará-la, adicionar mais atletas atrás ajuda a formar um bloco defensivo mais eficiente. Mais comumente, o bloco de vigilância ofensiva emprega um homem extra, criando uma superioridade imediata sobre os atacantes adversários.
Em geral, o bloco de vigilância ofensiva pode ser dividido em duas linhas diferentes. O mais comum é a formação 2-3 (como no Parma de Enzo Maresca, abaixo) ou 3-2. A mais alta das duas linhas é responsável por fechar imediatamente os espaços ao redor da bola, em uma tentativa de parar o contra-ataque em sua raiz. Essa linha geralmente é formada por meio-campistas com mentalidade defensiva, embora a inclusão de pelo menos um defensor esteja se tornando cada vez mais comum. Eles devem executar uma pressão agressiva após a perda de bola para duelar, dividir e interceptar.
Essa linha também é responsável por retardar o contra-ataque adversário, permitindo que os companheiros de equipe mais acima no terreno de jogo recuem e aumentem a presença defensiva.
Os defensores geralmente formam a mais profunda das duas linhas, com algumas equipes movendo um dos meio-campistas para trás. Essa linha precisa defender os passes mais longos e diretos que escapam com mais frequência dos atacantes. Naturalmente, eles também terão de lidar mais com os duelos aéreos. Ao mesmo tempo, enfrentarão adversários que tentarão prendê-los, segurar a bola e atuar como um ponto de referência no ataque para iniciar um contra-ataque. Esses jogadores também precisam defender grandes espaços às costas, com o apoio adicional de um 'goleiro-líbero' sempre que possível. Isso ocorre porque a maioria dos blocos na vigilância ofensiva opera a partir da linha do meio-campo.
Um número cada vez maior de equipes é extremamente agressivo em sua vigilância ofensiva, colocando a linha mais profunda cada vez mais dentro do campo adversário. Isso aumenta a distância potencial necessária para dar cobertura no recuo em direção ao seu próprio gol. No entanto, isso também dá menos espaço para os jogadores de ataque operarem. O que potencializa a pressão pós-perda dos jogadores mais avançados.
Quais técnicos e equipes são bons exemplos de vigilância ofensiva?
O Manchester City de Pep Guardiola
Pep Guardiola valoriza o domínio da posse de bola e do território. A estrutura 3-2 atrás de sua linha de cinco atacantes tem formado o bloco de vigilância ofensiva. No início, jogadores como João Cancelo e Oleksandr Zinchenko atuavam como laterais invertidos. Depois, Guardiola fez com que John Stones ou Manuel Akanji avançassem do centro da defesa para se juntarem ao único volante, Rodri, no gerenciamento dos espaços imediatos atrás da bola.
O Liverpool de Jürgen Klopp
O 4-3-3 de Klopp sempre dependeu muito do avanço dos laterais para criar uma parte significativa do seu jogo ofensivo. Como resultado, a linha de meio-campo é frequentemente posicionada na cobertura à frente dos dois zagueiros, com Virgil van Dijk, como a primeira opção, e Joël Matip ou Ibrahima Konaté, normalmente ao lado do holandês. Essa formação 2-3 contou com jogadores como Jordan Henderson, James Milner, Georginio Wijnaldum, Naby Keïta e, mais recentemente, Wataru Endo e Dominik Szoboszlai, para cobrir o terreno, pressionar agressivamente e defender o espaço à frente da última linha de cobertura do Liverpool.
O Arsenal de Mikel Arteta
Assim como Guardiola, Mikel Arteta usou laterais invertidos - mais frequentemente Zinchenko - para potencializar a saída de bola. No entanto, há muitas ocasiões em que, assim como Klopp, ele usou a vigilância ofensiva 2-3. Uma vez que os pontas do Arsenal são tão dominantes, jogadores como Zinchenko, Takehiro Tomiyasu e Ben White foram sendo deslocados para dar cobertura e vigilância. Isso para que a linha de ataque mantenha a maior amplitude possível por mais tempo.
O Chelsea de Thomas Tuchel
No Chelsea, Thomas Tuchel usava uma defesa com três zagueiros, que se tornava uma linha de cinco quando a equipe defendia por longos períodos. Mas quando atacava, os três zagueiros se mantinham presentes na última linha. A dinâmica dupla de volantes - alternada entre Jorginho, N'Golo Kanté e Mateo Kovacic - se destacava na proteção dos espaços à frente. Ao mesmo tempo, identificava o momento oportuno de avançar e reforçar a pressão pós-perda.
O Brighton de Roberto De Zerbi
Em seu estilo de jogo preferido, Roberto De Zerbi se baseia fortemente na construção da jogada com a dupla de volantes. Os dois volantes, somados a três dos quatro defensores que dão cobertura, geralmente formam a vigilância ofensiva da equipe. Com vários intercâmbios posicionais durante o jogo corrido, a vigilância ofensiva de De Zerbi irá variar seus integrantes, mas a estrutura 2-3 permanecerá a mesma. A última linha da equipe é extremamente agressiva e procura constantemente penetrar no campo adversário. Eles raramente defendem na linha do meio-campo, a ideia é pressionar nos espaços em frente ao círculo central (abaixo).
Quais são as vantagens de uma boa vigilância ofensiva?
A principal vantagem de uma boa vigilância ofensiva é que impede os contra-ataques rivais. Com um posicionamento inteligente, duelos agressivos e assertivos, pressão, interceptações e recuperações em geral, a equipe pode anular potenciais contra-ataques do oponente. O que se torna ainda mais importante quando um determinado adversário tem nos contra-ataques sua principal arma ofensiva.
Como o futebol é um jogo de conquista de espaço, uma vigilância ofensiva eficaz também ajuda a prender o adversário em seu próprio campo por períodos mais longos. Consequentemente, ajuda a obter o controle territorial da partida, permitindo à equipe que esteja em fase ofensiva dominar e sufocar o adversário por longos períodos (veja a explicação de Jonatan Giráldez na Masterclass dada ao The Coaches' Voice, vídeo abaixo). Mesmo que a equipe defensora seja particularmente forte na proteção de seu próprio gol, bloqueá-la por períodos prolongados por meio de uma vigilância ofensiva eficaz ajuda a desgastá-la mentalmente, aumentando as chances de que cometa erros.
Às vezes, a eficácia da vigilância ofensiva pode ajudar significativamente a resolver os momentos decisivos de uma partida. Por exemplo, interromper um contra-ataque com grande chance de terminar em gol ou romper o sistema defensivo adversário.
É interessante notar que a vigilância ofensiva de uma equipe pode contribuir para que faça gols após a conclusão de seu ataque original. Quando uma equipe se defende em um bloco baixo e compacto por um período considerável de tempo, suas recuperações de bola podem ocorrer nos momentos ou nas áreas erradas. Isso geralmente ocorre devido à frustração ou à falta de disciplina defensiva, sobretudo quando a equipe fica por um longo período sem a bola.
Se a estrutura de vigilância ofensiva recupera a posse quando os jogadores adversários abandonaram suas funções defensivas, em uma tentativa de contra-ataque, a equipe em transição ofensiva poderá explorar, punir e fazer gols em novos espaços que não estavam disponíveis momentos antes.
Redacción: The Coaches' Voice