
Davide Ancelotti
Botafogo, 2025-Presente
Após receber várias ofertas, não apenas neste ano, mas também em temporadas anteriores, Davide Ancelotti decidiu, em julho de 2025, tornar-se treinador principal. E o fez em um clube histórico do futebol brasileiro: o Botafogo.
Nascido em Parma (Itália) em 1989, Davide é filho de Carlo Ancelotti. Mas, ao contrário do pai, que jogou em times como AC Milan e Roma, além da seleção italiana, sua carreira como jogador de futebol foi breve e em categorias modestas, o que o levou a se concentrar muito cedo em sua formação acadêmica e técnica.
Formado em Ciências do Esporte, sua abordagem combina táticas tradicionais com uma análise profunda de dados, métricas de desempenho e uma preparação física moderna. Começou a trabalhar ao lado do pai no Paris Saint-Germain (2012/13) como preparador físico, função que também desempenhou em sua primeira passagem pelo Real Madrid, de 2013 a 2015.
Foi no Bayern de Munique (2016-2017) que ele se aproximou mais do banco de reservas, já como auxiliar técnico de seu pai. Ele ocupou a mesma função no Napoli (2018-2019), Everton (2019-2021) e Real Madrid (2021-2025). No clube espanhol, teve um papel importante na conquista das duas Ligas dos Campeões (2022 e 2024), principalmente na gestão das substituições, como a recomendação dada ao pai de colocar “Joselu” nos últimos minutos da partida de volta das semifinais da Liga dos Campeões 2023/24 contra o Bayern de Munique. O atacante foi decisivo com dois gols que culminaram em uma nova virada do Real Madrid (2-1).
Davide Ancelotti reúne em seu perfil toda a experiência adquirida ao lado de seu pai para traçar, a partir de agora, sua própria trajetória como técnico principal. A seguir, nossos treinadores UEFA Pro analisam suas características táticas e seu estilo como treinador.
Transição ofensiva imediata: verticalidade após pressão alta
Davide Ancelotti mantém como marca registrada um início agressivo após a recuperação da bola. No 4-2-3-1 que emprega no Botafogo, o atacante Arthur Cabral lidera a primeira linha de pressão, acompanhado pelos pontas, que fecham os corredores exteriores e forçam o adversário a conduzir para zonas de risco (abaixo).
No modelo de jogo do jovem técnico italiano, a pressão após a perda da bola se torna um mecanismo ofensivo por si só: a recuperação no campo adversário desencadeia imediatamente uma sequência acelerada de transição, com conexões rápidas orientadas para a finalização antes que o adversário reorganize seu bloco defensivo.

A dupla de volantes — que pode contar com jogadores como Marlon Freitas, Newton e Danilo — garante o equilíbrio estrutural, realizando coberturas por zonas internas e controlando a ‘basculação’ (flutuação) para evitar que a equipe se divida.
A sincronia entre a agressividade na pressão e a solidez posicional permite ao Botafogo manter a altura do bloco e sustentar a ameaça constante sobre a última linha adversária (abaixo).

Meia-atacante híbrido e gerador de desequilíbrios
Davide Ancelotti aposta na figura do meia-atacante em seu sistema 4-2-3-1. O venezuelano Jefferson Savarino é o principal jogador nesta posição, com uma função que vai além da mera recepção entre as linhas nos momentos com a bola. Seu posicionamento na zona central permite que ele se associe com os extremos por dentro, especialmente com Montoro, gerando triangulações que quebram a estrutura defensiva adversária. Nessas sequências, Savarino se torna o elo que transforma a posse em progressão, fixando marcadores e habilitando jogadores livres em profundidade.
A sincronização dos apoios de Savarino com a mobilidade dos extremos provoca superioridades em zonas interiores que obrigam o adversário a recuar ou a liberar espaços pelos lados para a projeção dos laterais. Além de seu protagonismo na circulação interna (abaixo), ele aporta profundidade e finalização. Na equipe de Davide Ancelotti, o meia também deve finalizar de média e longa distâncias, chegar na segunda linha e chutar a gol, mantendo-se uma ameaça constante ao rival.

Na zona de criação, Savarino pode cair pelas laterais para receber de frente, ampliar os ângulos de visão e detectar linhas de passe para bolas em profundidade, assumindo com precisão o papel de último passador.
A versatilidade do meia-atacante do Botafogo, aliada à sua leitura tática, o torna uma peça fundamental para que a equipe mantenha uma ocupação racional do espaço e um fluxo ofensivo dinâmico adaptável a diferentes estruturas adversárias. Por fim, Savarino gerencia os ritmos de jogo no 4-2-3-1, alternando conduções verticais (abaixo) e pausas, conforme exigido pela jogada. Uma função que adiciona imprevisibilidade tática e o reafirma como elo natural entre a criação e a finalização.

Flexibilidade defensiva: do bloco médio-alto à linha de cinco circunstancial
A partir do 4-2-3-1, Davide Ancelotti ajusta a estrutura defensiva de acordo com o adversário e o momento. Contra equipes com alto volume ofensivo, ele aposta em recuar os extremos para formar um bloco médio-alto que pode se transformar em 4-5-1 na recomposição. Nesse processo, Marlon Freitas atua como eixo de contenção (abaixo), protegendo a faixa central e coordenando-se com zagueiros como David Ricardo, Marçal, Kaio Pantaleão ou Alexander Barboza.

A ‘basculação' (flutuação) é um princípio defensivo essencial para o jovem técnico italiano, fechando linhas de passe internas e orientando o jogo adversário para as laterais, zonas de menor perigo (abaixo). Manter a profundidade após a perda da posse protege as costas dos laterais e condiciona o adversário a recorrer a cruzamentos forçados ou passes externos de baixa eficácia. Essa coordenação lateral agressiva, juntamente com a ocupação correta dos intervalos, minimiza as ameaças centrais e mantém a solidez do bloco médio-alto.

Progressão com a bola: controle posicional e amplitude dos laterais
Embora a identidade da equipe seja vertical, o Botafogo também sabe administrar posses prolongadas. Em partidas com domínio da posse de bola, a dupla de volantes — Danilo, Marlon Freitas ou Sebastián Rodríguez — regula o ritmo, enquanto os laterais Vitinho e Alex Telles ganham altura para dar amplitude. À frente, o meia-atacante se posiciona entre as linhas, atraindo a marcação e liberando as faixas externas para cruzamentos para o atacante Arthur Cabral (abaixo).

Diante de defesas adversárias fechadas por dentro, a equipe ativa um padrão de circulação lateral e mudanças rápidas de orientação para fixar o bloco adversário e gerar espaço pelas laterais (abaixo). Esse mecanismo estica a estrutura defensiva adversária, abre linhas de passe e permite atacar a partir de zonas vantajosas, sem perder a ocupação racional do espaço nem a complementaridade entre amplitude e profundidade.

Gestão tática do banco: substituições de impacto estrutural
Na gestão de Davide Ancelotti, as substituições obedecem a ajustes táticos que modificam tanto a estrutura quanto o comportamento coletivo. Para reforçar o equilíbrio defensivo, ele introduz perfis como Danilo ou Newton na dupla de volantes, fortalecendo a contenção e garantindo coberturas para proteger os laterais, como Alex Telles e Vitinho (abaixo).

Essas mudanças podem ser complementadas com zagueiros posicionais como Barboza ou laterais defensivos como Mateo Ponte, formando um bloco mais compacto na recomposição.
Quando busca potencializar a projeção ofensiva, o técnico italiano recorre a extremos verticais como Nathan Fernandes ou Matheus Martins para ampliar o campo e ativar chegadas da segunda linha (abaixo). Ele também utiliza Joaquín Correa como peça polivalente — em diferentes funções no meio-campo ou até como segundo atacante — para variar a altura da pressão e o tipo de progressão.

Dessa forma, cada substituição de David Ancelotti é uma intervenção estratégica que ajusta a densidade defensiva, amplia os recursos ofensivos e otimiza a ocupação do espaço de acordo com as necessidades do momento.