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A Roma de José Mourinho: cinco observações táticas

The Coaches' Voice
A Roma de José Mourinho: cinco observações táticas
Redacción
The Coaches' Voice
Publicado el
mayo 17 2023

JOSÉ MOURINHO

Roma, 2021-2024

José Mourinho encerrou, na temporada 2021/22, o longo jejum de títulos da Roma em competições europeias, que durava desde 1961. Os italianos conquistaram a Conference League após baterem o Feyenoord na decisão. Na atual temporada, o clube da capital italiana quer dar um passo à frente: almejando, agora, a conquista da Europa League - competição que chega em vantagem ao jogo de volta da semifinal contra o Bayer Leverkusen. Resultados que refletem a evolução das atuações da Roma de Mourinho em 2022/23.

“Entende muito bem o futebol, como demonstra o fato de ter vencido com quase todas as suas equipes. Mourinho tem uma imagem e um poder importante por tudo o que representa no mundo do futebol ”, afirmou Paulo Dybala, jogador da Roma que reencontrou seu melhor nível sob os comandos do treinador português. Mas o argentino não é a única chave desta Roma. O The Coaches’ Voice analisa outros pontos cruciais da equipe de José Mourinho nesta temporada.

Liberdade para Dybala

Sem que a Roma seja uma equipe com um jogo ofensivo que potencialize, a priori, o brilho do meia-atacante, uma vez que em muitas fases do jogo este encontra-se posicionado no campo defensivo, José Mourinho tem dado a Dybala liberdade de movimentação nas zonas onde se sente mais cômodo para receber a bola e dar continuidade ao jogo.

A capacidade do argentino de conduzir a bola, buscar o último passe e finalizar as jogadas torna os contra-ataques da Roma de Mourinho muito eficazes (abaixo), tendo a equipe um índice de 40% de finalização a gol nessas ações.

Outra das vantagens que Dybala encontra no esquema de José Mourinho é a variedade de apoios que tem quando perde altura e procura combinações de passes. Ele sempre pode contar com dois jogadores bem abertos, que oferecem amplitude à equipe, além de um atacante com capacidade para aproveitar - com suas arrancadas em profundidade - o último passe do meia.

Nesse ecossistema no ataque e liberdade de movimentos, Mourinho tem conseguido tornar Dybala constante no jogo e um líder da equipe. Uma tática que o treinador português já utilizou com grande sucesso com Mesut Özil no Real Madrid ou com Wesley Sneijder na Inter de Milão.

Contra-ataque, marca registrada

Antes da chegada de José Mourinho, a Roma era uma equipe que tentava assumir o controle do jogo, construir as jogadas desde a defesa, além de ser agressiva na pressão alta. Mas com a chegada do português, no verão europeu de 2021, o time foi aos poucos ganhando outra cara. Isto é, com linhas mais compactas na defesa e uma saída veloz em contra-ataques após a recuperação da bola. Na hora de atacar, esta é a marca registrada da Roma na atual temporada.

A velocidade e precisão dos atacantes, aliadas à perfeita ocupação dos espaços e às contínuas trocas de posições feitas pelos homens de frente no último terço, fazem com que a Roma chegue à área rival com igualdade e por vezes até com superioridade de jogadores.

O atacante Tammy Abraham é o encarregado de esticar o time rival após uma recuperação de bola e o início do contra-ataque. A potência e a velocidade do jogador inglês proporcionam tempo e espaço aos jogadores da segunda linha da Roma, que iniciam o contra-ataque (abaixo).

Da mesma forma, a movimentação de Abraham por toda a zona ofensiva, caindo frequentemente pelos lados do campo com o objetivo de evitar a densidade de defensores rivais na zona central, possibilita a jogadores como Lorenzo Pellegrini, Dybala ou El Shaarawy conduções verticais, em alta velocidade, diante de uma defesa desordenada.

Para realizar esse tipo de contra-ataque, a Roma opta por marcar em bloco médio ou baixo quando não tem a bola, para que haja mais espaço às costas da última linha rival. Sem dúvida, José Mourinho conhece todos os segredos do contra-ataque. A sua Roma lida perfeitamente com esta forma de atacar, tornando-se uma equipa quase mais perigosa quando está em fase defensiva, sem a posse de bola, do que quando realiza ataques posicionais no terreno contrário.

Bola parada

A Roma tem se consolidado como uma equipe em que as bolas paradas desempenham um papel preponderante. Até o momento, foram 11 gols marcados na Serie A nessas ações, com um aproveitamento de 25%. Sem menosprezar as jogadas ensaiadas, o primeiro passo para que essas ações sejam efetivas é ter um bom cobrador e um bom finalizador.

Dybala e Pellegrini são os encarregados de fazer todas as cobranças. Dois jogadores com perfis diferentes: o canhoto Dybala e o destro Pellegrini. A semelhança é a capacidade ambos têm de pegar bem na bola e alimentar com precisão os finalizadores.

Na outra ponta da jogada, a Roma também está bem servida com ótimas opções no jogo aéreo como, por exemplo, Chris Smalling, Roger Ibáñez, Diego Llorente, Abraham ou Gianluca Mancini. Todos finalizadores difíceis de serem marcados por sua estatura e facilidade de atacar a área (abaixo).

É nas ações de bola parada que José Mourinho e sua comissão técnica cobram mais objetividade, depois de uma série de movimentos: nessas situações, a ideia é fazer a bola chegar a um dos principais finalizadores dentro da área.

Solidez defensiva

Todas as equipas dirigidas por José Mourinho se caracterizaram pela competitividade e pela grande solidez defensiva. O que as levou a sofrer poucos gols. Isto tem se repetido na Roma. A equipe italiana deixou para trás as dúvidas defensivas, sobretudo no eixo central, a partir de 2021/22.

Mourinho tem conseguido dar maior consistência ao sistema defensivo, potencializando a competitividade de seus defensores. Quando a Roma não tem a bola, a equipe organiza-se num 5-4-1 em bloco baixo (abaixo), dificultando a criação de chances para o rival. Um ecossistema defensivo baseado em múltiplas ajudas pelos lados e um núcleo rochoso no meio.

Em relação à disposição defensiva dentro desse 5-4-1, Zeki Celik, na direita, e Nicola Zalewski, na esquerda, baixam suas posições para formar a linha de cinco ao lado de Mancini, Ibáñez e Smalling. Entretanto, Diego Llorente, que chegou na janela de inverno (europeu), tem sido o substituto para qualquer um dos zagueiros. À frente da linha defensiva, Nemanja Matic e Bryan Cristante povoam um meio-campo onde reduzem bastante a distância que têm com os zagueiros, dificultando para o rival jogar entre as duas últimas linhas da Roma.

Do goleiro, Rui Patricio, ao atacante, Abraham, a Roma tenta manter o mínimo possível de metros. Mourinho dá muito mais importância ao que acontece por dentro e a defender bem a área. Assim, os cruzamentos laterais do adversário são geralmente de longa distância. O que facilita na imposição dos zagueiros, por estarem bem posicionados e com um bom controle do homem a marcar.

Cristante, o ponto de equilíbrio

Para além da segurança defensiva, outra diretriz que sempre acompanha as equipes de José Mourinho e que não podia faltar na Roma é a presença de um meio-campista capaz de dar equilíbrio constante ao time. Na Roma, essa função é desempenhada pelo Bryan Cristante.

Apesar de ter jogado como zagueiro em outros momentos, sua posição natural é como volante. O treinador português voltou a colocá-lo no meio-campo, onde Cristante se firmou como titular da equipe. No entanto, a experiência na zaga trouxe ao jogador uma grande capacidade de leitura das ações defensivas.

Assim, o meio-campista da Roma é vital para a recuperação de bola da equipe, graças a sua leitura e intuição (abaixo). Mas, para Mourinho, o italiano não é apenas um jogador com talentos defensivos. Ele é também uma peça importante para dominar a posse de bola através de sua capacidade de fazer combinações.

Sempre no eixo e com a predisposição para dar apoio aos zagueiros e elaborar a saída de bola, Cristante encarna a figura do atleta que joga de forma simples para dar continuidade à jogada, sem assumir grandes riscos. Ações em que tem consciência de que o seu envolvimento passa a ser um primeiro apoio fundamental no jogo ofensivo do time. Desta forma, Cristante se mantém sempre bem posicionado, tendo como principal função a ligação com Pellegrini ou Dybala. Aí, a partir desses dois jogadores, a Roma ativa a verticalidade em seus ataques.