Liverpool e Real Madrid se enfrentam pela terceira vez em uma final de Liga dos Campeões - antes, Taça dos Campeões da Europa -. Os Reds levaram a melhor na decisão de 1981, disputada, coincidentemente, em Paris, mesma cidade que receberá a final da temporada 2021/2022. Um gol de Alan Kennedy, a dez minutos do fim do jogo, foi suficiente para que a equipe inglesa voltasse a Liverpool com a taça em mãos.
Tivemos que esperar até 2018 para ver um novo duelo entre eles em uma final da Liga dos Campeões. Nesta ocasião, o título ficou com o Real Madrid, que venceu por 3 a 1 com protagonismo de Gareth Bale, autor dos dois últimos gols do clube espanhol.
Portanto, a final da Liga dos Campeões de 2021/22, que terá o Stade de France como palco, irá desequilibrar este retrospecto entre eles quando o tema é decisão de Liga dos Campeões. Por ora, cada um venceu o rival uma vez na partida mais importante do futebol do Velho Continente. Duelo que reúne clubes acostumados a levantar esta taça: os Reds têm 6 títulos; o Real é o maior vencedor da competição, com 13 conquistas.
Por falar em trajetórias bem sucedidas, Jürgen Klopp e Carlo Ancelotti acumulam muita experiência em disputas como a deste sábado. Klopp levou o Borussia Dortmund à uma final (2013), e está em sua terceira à frente do Liverpool (2018, 2019 e 2022). Ancelotti, por sua vez, é o primeiro técnico a alcançar cinco finais de Champions League na história: foram 3 com o Milan (2003, 2005 e 2007) e vai para a sua segunda com o clube merengue (2014 e 2022).
Como foram os caminhos de Liverpool e Real Madrid até a final da Liga dos Campeões?
Liverpool e Real Madrid chegaram à decisão da Liga dos Campeões 2021/22 por caminhos bem diferentes. O time de Klopp chega com uma campanha quase irretocável: na fase de grupos, venceu os seis jogos disputados numa chave que tinha Milan, Atlético de Madrid e Porto. No mata-mata, passou por Inter de Milão, Benfica e Villarreal, com 4 vitórias, 1 empate e 1 derrota na somatória desses confrontos.
Números que contrastam com os do Real Madrid, que perdeu três vezes na fase de grupos, algo insólito para o clube espanhol na principal competição da Europa. Então, como foi possível para a equipe de Carlo Ancelotti chegar à final da Liga dos Campeões com esses números? O ponto-chave do Real não foi a regularidade em seu jogo, como aconteceu com o Liverpool. Para os espanhóis, o que fez a diferença foi seu poder de decisão, sua explosão, em momentos cruciais dos jogos. Muitas vezes, resolvendo a questão num curtíssimo espaço de tempo. PSG, Chelsea e Manchester City sofreram com essa explosão do time de Ancelotti e deram adeus à competição após sofrerem viradas incríveis no Santiago Bernabéu.
Sim, ambos os finalistas têm em comum, nesta edição de 2021/22 da Champions League, a efetividade na zona de finalização: o Liverpool chega ao jogo final com 30 gols marcados (média de 2,5 gols por partida); o Real fez 28 (2,3 de média).
Quais são os sistemas de jogo utilizados por Liverpool e Real Madrid?
O Liverpool de Klopp é reconhecido por seu 4-3-3 inicial. Uma estrutura que se mostra flexível e diversa em sua fase ofensiva de acordo com os movimentos de seus jogadores. É comum vermos, por exemplo, os laterais dos Reds posicionados no último terço do campo rival, onde se somam aos extremos, ao centroavante e, porventura, a algum dos meio-campistas ‘interiores' que se apresenta próximo à área adversária. Desta maneira, o Liverpool orquestra uma variante ofensiva no 2-2-6 para dar maior fluidez e verticalidade às suas ações de ataque em zona de finalização.
Em fase defensiva, o 4-3-3 dos Reds também sofre mutações, sobretudo quando adianta suas linhas de pressão, posicionando-se no campo rival com seus laterais em profundidade e próximos à primeira linha de criação de jogo do adversário.
O Real Madrid de Ancelotti também tem o 4-3-3 como desenho habitual, apesar de o treinador italiano ter introduzido uma variante no mata-mata para igualar as linhas ofensivas dos sistemas utilizados pelas equipes rivais. Essa variante é a flutuabilidade posicional de Fede Valverde, quem migra da posição de 'falso extremo' em fase ofensiva para ser um meio-campista a mais em fase defensiva. Alterando, assim, o desenho tático para o 4-4-2 em losango.
Nos momentos de maior necessidade, Ancelotti abriu mão do pragmatismo, utilizando Eduardo Camavinga para sustentar as estruturas defensivas da equipe nos momentos sem bola, o que tornou o jogador francês um fator determinante para o time.
Camavinga, apesar de sua juventude, assumiu papel fundamental no meio-campo, substituindo Casemiro, para reforçar a sua equipe com uma dupla de volantes, próximo a Valverde, proporcionado total liberdade aos meio-campistas interiores, sobretudo Luka Modric, para chegar à área rival. Uma disposição que deixa o Real Madrid num 4-2-4.
Quais são as principais características ofensivas do Liverpool e do Real Madrid?
Sem esquecer dos momentos de ‘heavy-metal’, como Klopp define o estilo de futebol que lhe agrada, o Liverpool é uma equipe que domina a partida através da posse de bola; tem uma média de 60% de posse na atual edição da Champions League. Mas tem sempre a intenção de imprimir velocidade e verticalidade em seu jogo ofensivo, com transições vertiginosas.
Para isso, Trent Alexander-Arnold e Andrew Robertson adotam posicionamentos muito altos e em amplitude para buscar vias de progressão pelas pontas, próximos aos extremos em posições interiores ou atacando às costas da última linha defensiva do adversário.
Isso faz do Liverpool um time difícil de marcar, já que os ingleses têm uma grande quantidade de variantes ofensivas, dentre elas a circulação de jogadores em fase de ataque.
Nesta circulação de atletas é crucial o papel desempenhado pelos meio-campistas interiores. Um deles, Thiago Alcântara, ajuda tanto no início da construção na saída de bola, quanto no desenvolvimento da posse em zona intermediária ou nos metros finais, enquanto o outro interior - Henderson o Naby Keïta— se posiciona nos intervalos entre zagueiro e lateral rivais, provocados pela movimentação do centroavante para atrair os zagueiros adversários.
O Real Madrid de Ancelotti tem se mostrado uma equipe especialmente perigosa nas transações ofensivas, situações que precisa de poucos toques para chegar ao gol adversário. Karim Benzema é o jogador que ativa essa contra-ataques, apoiando-se principalmente em Vinícius Júnior, que atrai os defensores com suas conduções de bola, liberando, assim, o atacante francês em zona de finalização.
Nos momentos das incríveis viradas de resultado, Ancelotti criou superioridades nos corredores externos, com a sociedade entre ponta e lateral, adotando posicionamento bem profundo para buscar cruzamentos à área. Além disso, Modric também adotou posicionamento mais avançado e entre linhas de marcação. Foi com este posicionamento que o meia croata conseguiu conexões com os atacantes nos jogos, por exemplo, contra PSG e Chelsea.
Quais são as principais características defensivas do Liverpool e do Real Madrid?
O Liverpool se identifica por defender com linhas altas, diminuindo espaços. Assim, posiciona sua zaga o mais avançado possível, com a intenção de roubar a bola no início da construção de jogo do adversário para contra-atacar com rapidez e aproveitar os espaços que o rival deixará em seu processo de reorganização defensiva. Esta marcação tão agressiva é facilitada em grande parte pelas características de seus zagueiros.
Virgil van Dijk e Ibrahima Konaté são jogadores fisicamente muito potentes, que realizam constantes coberturas a seus laterais quando estes avançam de zona, assim como também conseguem gerir bem as bolas que passam às suas costas. Mesmo quando são superados num primeiro momento - domínio ou giro do atacante rival -, com muita potência e velocidade conseguem se recuperar e levar a melhor na sequência da jogada na maioria desses duelos individuais.
Fabinho é um jogador fundamental para o sistema de jogo que emprega Klopp. O meio-campista brasileiro parece ter o dom de prever as ações que irão ocorrer quando o adversário tem a bola. Assim, está sempre bem posicionado na cobertura dos meias quando estes caem para o lado para pressionar.
Em algumas ocasiões, Fabinho também retrocede seu posicionamento para fortalecer a zona central da defesa do Liverpool, quando a equipe necessita segurar um resultado.
Ancelotti tem gerido a fase defensiva do Real Madrid de acordo com o perfil de seus jogadores, sobretudo os meio-campistas. Por isso, aposta numa equipe que costuma marcar em bloco médio ou até baixo, dependendo do que o jogo demanda e, evitando assim, grandes desgastes a Casemiro, Modric e Kroos em suas corridas sem bola.
Deste modo, o Real de Ancelotti não costuma utilizar a pressão alta na saída de bola rival. Prefere temporizar na zona intermediária ou até em seu próprio campo, com a clara intenção de aproveitar os espaços que o rival deixará na defesa. Quando consegue recuperar a bola, ativa com eficiência seu perigoso contra-ataque.
Desta forma, ademais, os zagueiros Éder Militão e David Alaba tendem a ocupar posições mais cômodas para defender os lançamentos diretos e frontais do adversário e, ao mesmo tempo, sem deixar espaços às costas, sabendo que esta é uma das fragilidades defensivas da equipe.
Quem pode entrar e mudar o jogo para Liverpool e Real Madrid?
Em uma final da Liga dos Campeões, como já disseram os dois treinadores envolvidos nesta decisão, tão importante quanto a escalação inicial são as possíveis substituições. Klopp conta com uma grande amplitude no elenco, que soube rodar bem durante toda a temporada.
Mas é no ataque e nos meias interiores que os Reds têm mais armas para mudar a dinâmica de uma partida. Como se viu, por exemplo, no segundo tempo da eliminatória contra o Villarreal, na semifinal. As entradas de Jordan Henderson e Luis Díaz foram fundamentais para sair de um 2 a 0 contra, e virar o jogo para 3 a 2. Naby Keïta ou Diogo Jota, caso não comecem jogando, são potenciais candidatos a mudar a cara da final; jogadores que se encaixam dentro do 4-3-3, mas oferecem matizes diferentes em relação aos titulares.
Ao longo da temporada, Ancelotti não apenas encontrou uma equipe titular, como também suas possíveis substituições. Quase com uma troca fixa por linha. Na véspera da final da Liga dos Campeões, a única incógnita do Real está na ponta direita: quem joga, Rodrygo ou Fede Valverde? Jogadores que, por mais que ocupem a mesma posição, mudam o desenho tático e o perfil da equipe, sobretudo em fase defensiva.
No entanto, se um deles fica de fora de um jogo, a reposição é segura e treinada. A exemplo do que também oferece Eduardo Camavinga.
Nas vezes que o meio-campista francês saiu do banco de reservas, seja para atuar como meia interior ou volante, ele mudou a dinâmica da partida a favor de sua equipe. Sua contribuição nas recuperações de bola e na estruturação dos ataques tem sido fundamental.
Ancelotti, na hipótese de David Alaba estar entre os titulares, terá Nacho como potencial substituto tanto de um zagueiro, quanto de um lateral, em ambas as fases do jogo.
Como vimos nos momentos que o Real Madrid se encontrava em prejuízo no placar e precisava virar as partidas, Ancelotti preferiu colocar Nacho como zagueiro e posicionar Alaba como lateral-esquerdo. Por outro lado, se a intenção for defender um resultado favorável, Nacho pode entrar como terceiro zagueiro para proteger o centro da defesa ou até mesmo substituir um deles para manter a intensidade defensiva.
Redacción: The Coaches' Voice