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Rafael Leão: Relatórios da Serie A

The Coaches' Voice
Rafael Leão: Relatórios da Serie A
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Redacción
The Coaches' Voice
Publicado el
agosto 25 2022

Rafael leão

AC Milan, 2019-Presente

O perfil:

O renascimento do AC Milan na Serie A, com a conquista do Scudetto na temporada 2021/22, tem vários protagonistas. Um deles é Rafael Leão. Mais um dos jovens talentos surgidos nas categorias de base do futebol português. Em seu caso, foi formado pelo Sporting, onde surgiu como atacante de lado.

No verão de 2018, assinou com o Lille, da França, onde ficou apenas um ano depois de anotar 8 gols em 26 partidas na Ligue 1. Um desempenho que o levou ao Milan. O gigante italiano identificou no português uma peça crucial em sua reconstrução. Mas com apenas 20 anos e depois de uma transferência de 30 milhões de euros, ele sentiu a pressão em suas duas primeiras temporadas na Serie A, e não ultrapassou a marca de 6 gols por campanha.

Sua explosão chegaria na temporada 2021/22, quando se mostrou fundamental no ataque rossonero, tanto com seus gols quanto com suas assistências.  “Tem muitos gols nos pés, ainda mais que no ano passado. Cresceu muito sem bola, agora precisa se movimentar melhor na área”, disse seu treinador, Stefano Pioli. Em alta, Rafael Leão tem sido alvo de rumores sobre uma possível transferência a clubes da Premier League por um valor de 150 milhões de euros.

Análise técnica:

Leão tem habilidades naturais específicas em seu jogo que lhe permitem atuar em três posições diferentes no ataque: ponta-esquerda, segundo atacante ou centroavante. Uma questão que, por outro lado, abre o debate sobre qual seria a posição onde pode atingir seu melhor nível.

Esta indefinição sobre uma posição específica foi transformada por Pioli em algo vantajoso tanto para o jogador quanto para o Milan. Aproveitando suas passadas largas, somadas a sua capacidade de associação e chegada desde a segunda linha - mais que permanecer fixo dentro da área -, o treinador soube transformá-lo em um atacante moderno, distante do clássico ‘9’ italiano.

Deste modo, na temporada 2021/22, sob os comandos de Pioli, iniciava as ações partindo desde o lado esquerdo (abaixo). Mas tinha total liberdade de movimentos por toda a zona de ataque. Assim, dá para dizer que ocupou a posição de ponta-esquerda no Milan que conquistou o Scudetto. Porém, sua liberdade posicional e os mapas de calor indicam que foi jogando atrás do centroavante, Olivier Giroud ou Zlatan Ibrahimovic, a posição que teve mais participação.

Como extremo-esquerdo, Leão fez 11 gols na temporada 2021/22. Número bem superior aos 6 de média que tinha feito nas temporadas anteriores. Um possível reflexo de jogar com menos pressão, ao ter deixado de ser a principal referência ofensiva da equipe. Isto, claro, somado a uma maior maturidade para entender os espaços que precisa ocupar, algo que aumentou sua efetividade dentro da área rival.

Apesar de sua evolução goleadora na Serie A 2021/22, o jogador milanista tem margem de evolução nas finalizações. Quesito que faz a diferença nos grandes atacantes. Tornar-se mais decisivo neste aspecto certamente ajudará para que atinja o próximo nível.

Em termos de potência e dribles, o português já provou estar na prateleira dos melhores atacantes, duas armas que utiliza com frequência em benefício de sua equipe. No Milan, todos sabem que quando a Rafael Leão recebe a bola próximo à linha lateral, a condução na diagonal está assegurada.


Uma diagonal que traça não apenas para buscar o passe entre linhas ou a finalização a gol, mas que também, graças a sua potência e habilidade, permite com que ganhe o espaço às costas dos defensores (abaixo). Com esta ação, consegue muitas vezes definir sozinho as jogadas que inicia desde a linha de fundo. Assim como servir seus companheiros - deu 10 assistências na temporada 2021/22 -.

A verticalidade que Pioli cobra de sua equipe é outro dos aspectos importantes que colaboraram para a explosão do atacante. O jogo de transições praticado pelo Milan destaca ainda mais o futebol de Leão no âmbito ofensivo.  

Se a capacidade de associação não é seu principal atributo, e tampouco é um jogador capaz de resolver frequentemente a jogada em espaços reduzidos ou de servir os atacantes com passes entre linhas, ele compensa com sua velocidade e sua eficaz condução de bola nos contra-ataques. Duas virtudes que se complementam com perfeição ao estilo de jogo que propõe o técnico italiano.

Mesmo sem ser o homem de referência no ataque, ele possui muitos dos atributos necessários para tal, sobretudo no que diz respeito à sua constituição física. Tem quase 1.90m de altura e sabe jogar de costas para o gol. Características úteis quando sua equipe é pressionada e precisa de alguém para segurar a bola no campo de ataque. Além de ser um outro mecanismo para atacar quando o time não consegue progredir com a bola linha por linha (abaixo).

Com sua altura, potência e força física, consegue levar vantagem em muitas disputas no jogo aéreo. Sua agressividade nessas ações faz com que saia vencedor em muitos desses duelos.

Rafael Leão com AC Milan

Papel sem bola:

Um dos movimentos que Rafael Leão tem automatizado no Milan é o de se aproximar do lateral-esquerdo, Theo Hernández, para receber o passe. Assim como variar a corrida e acelerar na direção oposta para tirar proveito do espaço gerado às costas do lateral rival. 

Ademais, sua dedicação sem bola é outra das contribuições positivas que podemos incluir em seu jogo. Apesar de não ter grandes qualidades defensivas, ele não hesita em ajudar na marcação, tanto com a bola em movimento, como quando precisa acompanhar seu par, quanto nas bolas paradas, situações que se impõe com sua altura e potência nas disputas corpo a corpo (abaixo).

A maturidade que vem adquirindo pode ser observada também em seus movimentos e posicionamentos quando sua equipe está sem a posse da bola.

Apesar de não ter grandes qualidades defensivas, Rafael Leão não hesita em ajudar na marcação, tanto com a bola em movimento

Além das colaborações defensivas citadas, o fato de estar comumente bem posicionado para receber a bola em fase ofensiva faz do português um jogador taticamente inteligente. Oferece constantemente uma linha de passe ou uma alternativa a sua equipe.

Encontrar a conexão com Cristiano Ronaldo:

Em uma seleção portuguesa repleta de estrelas em seu ataque, Rafael Leão vem ganhando seu espaço pouco a pouco. Ele tem sido utilizado por Fernando Santos numa posição similar à que desempenha no Milan.

Talvez a exceção seja que a liberdade de movimentos que tem no clube se vê reduzida na seleção. Isso se deve à grande transcendência de Cristiano Ronaldo no jogo. Além disso, com tantos meio-campistas técnicos à disposição como, por exemplo, Bernardo Silva, João Moutinho e Bruno Fernandes, Portugal não joga com a mesma verticalidade do Milan; é uma equipe que prefere amadurecer as jogadas.

Deste modo, o estilo de Portugal é um convite para Rafael Leão permanecer mais tempo posicionado como extremo-esquerdo, esperando a oportunidade de buscar o fundo ou trazer para dentro e tentar a finalização (abaixo).

Portugal é um convite para Rafael Leão permanecer mais tempo posicionado como extremo-esquerdo, esperando a oportunidade de buscar o fundo ou trazer para dentro e tentar a finalização

Se no Milan de Pioli é titular absoluto, a situação é diferente na seleção. Diogo Jota é outra das tantas opções ofensivas de Fernando Santos, e tem sido o preferido do selecionador para ocupar o lado esquerdo do ataque.

No entanto, e embora as características dos jogadores sejam diferentes - Jota é mais associativo e se converte com frequência em meia-atacante, enquanto Leão é mais ‘rompedor’ - a figura de Cristiano Ronaldo é decisiva na definição de seu companheiro de ataque. No momento, o capitão português parece se entender melhor com Jota do que com Leão.

A poucos meses da disputa da Copa do Mundo, o jogador do Milan vai precisar trabalhar duro para deixar de ser uma alternativa e firmar-se como parceiro ofensivo de Cristiano Ronaldo, nesta que será possivelmente a última Copa do cinco vezes vencedor da Bola de Ouro