gonçalo ramos
Benfica, 2019-Presente
"Demolidor", "Fulminante", "Nasceu uma estrela". Estas foram algumas das manchetes que Gonçalo Ramos provocou ao anotar um hat-trick pela seleção de Portugal no duelo contra a Suíça pelas oitavas de final da Copa do Mundo do Catar, em 2022. A apresentação de gala do atacante do Benfica ainda ocorreu sob enorme pressão: além da importância do jogo em si, Ramos assumiu a titularidade em detrimento de Cristiano Ronaldo, que ficava no banco pela primeira vez em uma partida de tamanha magnitude.
No entanto, o desempenho de Ramos apenas ratificava tudo aquilo que vinha fazendo pelo Benfica, campeão da liga portuguesa em 2022/23. As suas brilhantes exibições no clube lisboeta, sob os comandos de Roger Schmidt, o transformaram em um dos atacantes mais valorizados do momento. E como aconteceu com outros atacantes que se destacaram no Benfica (Darwin Núñez, do Liverpool, sendo o exemplo mais recente), a Premier League está atenta aos passos de Ramos.
No The Coaches' Voice, analisamos o jogo deste jovem, de apenas 21 anos, e os aspectos de seu futebol que ainda podem evoluir.
Análise técnica
Gonçalo Ramos é um centroavante, destro, mas que também tem grande capacidade de finalizar com o pé esquerdo. Tem habilidade de sobra para usar as duas pernas em todas as circunstâncias técnicas que o jogo exige, dentro e fora da área.
No um contra um, principalmente dentro da área adversária, é capaz de superar com facilidade o seu marcador e encontrar espaço para a finalização. Além de ser um atacante com grande capacidade de finalizar de primeira (abaixo).
Quando se movimenta fora da área rival, sua participação é de suma importância no jogo ofensivo de sua equipe, sem a necessidade de aparecer constantemente. Costuma resolver com facilidade essas jogadas nas quais se distancia do gol, mostrando-se à vontade com a bola nos pés também longe de seu habitat mais natural.
A essas virtudes ofensivas soma-se o seu jogo aéreo. Uma faceta em que se destaca não somente a sua capacidade de finalização (abaixo), mas também a sua energia para disputar duelos aéreos fora da área adversária. Em todas essas situações, com ou sem bola, sente-se confortável e é peça fundamental para sua equipe.
No entanto, para se ter uma visão completa do jogo de Gonçalo Ramos, é importante analisá-lo nos dois contextos competitivos em que participa: com o Benfica e com a seleção de Portugal, uma vez que seu futebol apresenta diferentes nuances devido aos diferentes sistemas de jogo de cada equipe. Assim, enquanto o Benfica costuma se alinhar num 4-4-2, com Ramos tendo a companhia mais próxima de um outro atacante, no 4-3-3 da seleção, ele costuma ser o único homem de frente centralizado.
Em ambas as equipes, porém, Ramos costuma se posicionar perto dos zagueiros, pronto para tentar escapar da marcação e finalizar a jogada após o último passe. O que muda é o seu companheiro: no Benfica, a ajuda vem de alguém que flutue entre as linhas de marcação, enquanto na seleção, recebe o apoio de um meio-campista.
No 4-4-2 do Benfica
Dentro do ecossistema ofensivo do Benfica, em sua estrutura 4-4-2, Gonçalo Ramos é a principal referência de ataque, ou seja, é o jogador que sempre deve estar preparado para finalizar as jogadas nas proximidades da área. Por isso, não participa de maneira prioritária da criação e progressão do jogo da equipe. É mais comum vê-lo colado à linha defensiva adversária e oferecendo corridas às costas da defesa.
São poucas as ocasiões que vemos Ramos fora de sua zona ou longe da área rival. Situações em que pode baixar entre linhas ou cair a um dos lados para dar apoio. Embora, como mencionamos, são situações incomuns e de pouco impacto.
A sua zona de influência é ao redor dos zagueiros rivais. Esse posicionamento fixa a defesa adversária e oferece a seu companheiro de ataque ou aos meio-campistas interiores o espaço e o tempo suficientes para receberem a bola entre linhas (abaixo).
As suas movimentações visam proporcionar vantagens em zonas próximas à baliza, dentro da área rival. Isto, com a finalidade de aproveitar passes em profundidade, cruzamentos laterais ou combinações rápidas para buscar o chute. Nesse contexto, Ramos é rápido e preciso na finalização.
Na defesa, o Benfica mantém uma estrutura semelhante ao 4-4-2 que utiliza com a posse de bola. As características da equipe, que sempre busca ser protagonista, exigem pressão em todo o campo, a partir do tiro de meta do adversário. Isso faz com que Ramos e seu companheiro de ataque formem a primeira linha de pressão para impedir a progressão rival, na tentativa de roubar ou provocar a perda da bola.
O atacante português é solidário no trabalho defensivo. Da mesma forma, costuma se posicionar onde a equipe exige para iniciar a pressão (abaixo).
A tendência de Ramos é tentar provocar vários passes do rival nas saídas de bola até identificar o momento certo de pressionar. Embora mereça elogios por sua leitura tática e pelo timing de saltar à pressão, ele, às vezes, peca pela falta de ritmo e intensidade. Sobretudo, contra rivais com maior capacidade de combinação.
Em situações de transições defensivas ou quando sua equipe adota uma marcação em bloco baixo, ele se compromete com as demandas da marcação por zona. Costuma se posicionar atrás da linha da bola o mais rápido possível para tentar bloquear passes pelos corredores internos. Direcionando, assim, a pressão para os lados para que a equipe consiga adiantar suas linhas.
Único ‘9’ com Portugal
O seu desempenho na seleção de Portugal não está longe do que oferece no Benfica em termos organizacionais. Embora atue como único homem centralizado, sua participação no ataque se caracteriza por seu papel de fixar os zagueiros e oferecer corridas às suas costas (abaixo). Desta forma, ele também é a referência na área, e as suas virtudes - como acontece no Benfica - são aproveitadas nas zonas de finalização.
Na defesa, a sua posição inicial e comportamento na pressão são ligeiramente diferentes em comparação com o que faz em seu clube. Na seleção, Ramos é o primeiro a iniciar a pressão em situações que o adversário quer iniciar as construções com passes curtos.
No entanto, o seu trabalho defensivo na seleção portuguesa não é tão marcante, uma vez que a equipe normalmente domina a maior parte de seus rivais. Isso faz com que Ramos trabalhe menos sem bola.
Finalização
Ramos é, por natureza, um finalizador. Assim, sua principal característica é a definição das jogadas. A sua voracidade faz com que esteja pronto para atacar as zonas de finalização sempre que a bola estiver perto da área adversária. Prescinde de dar apoio aos companheiros ou aproximar-se da bola. Isso com o objetivo de acompanhar a trajetória da bola e ganhar vantagem sobre o rival nos metros decisivos.
Sua principal característica é finalizar de primeira, vindo detrás para atacar a área e se conectar com os cruzamentos/passes laterais (abaixo). Sua intuição e leitura de jogo lhe permitem ganhar com frequência o espaço e o tempo necessários para finalizar com maior comodidade. Uma ação que costuma executar com um chute preciso com a parte interna do pé.
Nas ações em que não consegue finalizar de primeira, Ramos tem força para proteger a bola e habilidade para driblar, com a bola sempre colada ao corpo, para resolver o ataque de outra maneira. Usa as partes interna e externa do pé com facilidade, o que lhe permite encontrar o mínimo espaço para a finalização. Neste ponto, não precisa de muito tempo nem espaço para executar o chute. É um atacante que surpreende não só pela precisão que consegue alcançar com a parte interna do pé, mas também pela potência de seus chutes.
A mesma habilidade que tem para finalizar com os dois pés, também demonstra no jogo aéreo. Neste aspecto, seu bom posicionamento é determinante. Quando recebe um bom cruzamento, sua vantagem posicional sobre seu marcador lhe permite direcionar a finalização, que não precisa ser particularmente potente para ser eficaz.
Como pode evoluir?
No aspecto técnico, Ramos ainda tem margem de melhora na precisão dos passes e nos controles de bola. No que diz respeito à parte tática, ainda pode evoluir nas decisões de quando pressionar ou temporizar, assim como em sua consistência para se posicionar atrás da bola em ocasiões específicas. Em algumas situações de jogo, ele diminui o ritmo defensivo e tende à complacência.
O que não gera dúvidas é que o atacante do Benfica está em constante evolução. Algo que se reflete em suas estatísticas de gols marcados: 4 gols em 2020/21, 8 em 2021/22, e 27 em 2022/23.
Se continuar aumentando sua capacidade goleadora a cada temporada, fica fácil prever que será um atacante do mais alto nível.