Antony
Manchester United, 2022-Presente
O Perfil:
Depois das milionárias contratações do argentino Lisandro Martínez e de seu compatriota brasileiro Casemiro, Antony se converteu no terceiro jogador sul-americano - e no mais caro - a assinar com o Manchester United no verão europeu de 2022. Numa negociação que se aproxima dos 100 milhões de euros, o United trouxe o atacante de 22 anos, proveniente do Ajax, campeão holandês, para que se reencontrasse não apenas com o zagueiro Martínez, mas também com o treinador Erik ten Hag.
Antony, revelado nas categorias de base do São Paulo, assinou com o Ajax na véspera de completar 20 anos de idade. Após duas bem-sucedidas temporadas na Holanda, ele segue o caminho de ten Hag. "Deu para ver todo o seu potencial", disse o técnico holandês depois de Antony marcar em sua estreia na Inglaterra, na vitória do United por 3 a 1 contra o Arsenal. "Sei que tipo de ameaça ele pode ser na Premier League. Jadon Sancho e Marcus Rashford podem jogar pela direita, mas preferem atuar pela esquerda. Agora temos a peça que faltava para jogar bem pela direita".
Análise técnica:
Antony é um ponta/extremo canhoto que joga pela direita e cujo instinto natural é atacar por dentro, em direção ao seu pé dominante. Seus dribles partindo desta diagonal podem ser efetivos; ele costuma dar vários toques curtos para controlar a bola e afastá-la de seus marcadores (abaixo). Seu posicionamento inicial, aberto, ajuda a descolar o lateral adversário dos demais integrantes da primeira linha defensiva, gerando um espaço para driblar. O brasileiro ataca por dentro de forma similar à de Riyad Mahrez, ou seja, com pausas na condução da bola antes de realizar uma troca de ritmo, com uma explosiva aceleração.
Como os laterais rivais trabalham, em sua pressão, para forçá-lo a jogar pela ponta, Antony adaptou seu jogo e passou a fazer mais cruzamentos rasteiros com seu pé direito. Nesses casos, costuma ludibriar o rival dando um toque na bola para dentro antes de acelerar pelo outro lado e fazer o cruzamento ou dar o corte. Como os laterais adversários certamente seguirão tentando induzi-lo a levar a bola em direção ao seu pé direito, ele deveria tentar dar com mais frequência um segundo toque através da linha defensiva, especialmente se não houver a possibilidade de cruzar rapidamente.
Isso permitiria a Antony superar completamente seu marcador e conseguir faltas ou até pênaltis. Representaria também uma ameaça alternativa quando enfrentar laterais com a mesma velocidade e capacidade de aceleração.
Ameaça de gol
Antony é muito hábil na hora de se conectar com seus companheiros de equipe para criar oportunidades de finalização para si próprio. Espera que um deles - normalmente lateral ou meio-campista - faça a ultrapassagem, arrastando com seu movimento um rival, justo quando Antony começa a cortar para dentro. Quando finaliza com seu pé esquerdo, sente-se confortável tanto em chutar com efeito, buscando o ângulo mais distante (abaixo), quanto ao colocar potência em suas finalizações. Corridas de companheiros em direção à área também ajudam a afastar defensores, proporcionando a ele mais liberdade para arriscar chutes de média distância.
À medida que foi evoluindo seu jogo, Antony passou a aproveitar mais as ultrapassagens de seus companheiros para criar oportunidades de finalização para si mesmo. Porém, essas ultrapassagens são mais frequentes pelo corredor interno, ou seja, o mesmo espaço que Antony prefere avançar com a bola. Como resultado, o brasileiro precisa atrasar ligeiramente seu drible, o que pode permitir que o adversário se aproxime dele e feche o espaço em direção ao gol, possivelmente com o auxílio de um segundo defensor.
Apesar de ter sido o segundo jogador do Ajax com mais chutes a gol na Eredivisie tanto na temporada 2020/21 quanto na de 2021/22, Antony não chegou a uma dezena de gols em nenhuma delas. De qualquer forma, ele sincroniza bem seus movimentos em direção à baliza quando a jogada é construída pela esquerda, convertendo-se num valioso atacante adicional na segunda trave. Nessa posição, pode tanto entrar para finalizar quanto ser útil ao tirar marcadores de seus companheiros centralizados.
Na defesa
Antony é forte na pressão pós-perda e costuma fazê-la imediatamente após ele ou um companheiro próximo perder a posse da bola. Sua agilidade e aceleração são fundamentais para isso, mas não só, o brasileiro também pressiona com inteligência, sobretudo quando força a saída de bola pelos lados, fazendo uma pressão de dentro para fora. Também mostra competência quando exerce pressão por trás ou vai para a dividida, intercepta, marca e recupera a bola por trás (abaixo). Na defesa, é uma fonte constante de apoio ao seu companheiro da lateral-direita.
Antony num 4-2-3-1
Em sua primeira temporada no Ajax, Antony atacou pela direita dentro do sistema habitual de Erik ten Hag, o 4-2-3-1. O meia Davy Klaassen se adiantava para acompanhar o centroavante Sébastien Haller, que se incorporou à equipe em meio à temporada. Dusan Tadic fechava por dentro, vindo da esquerda, com Daley Blind ou Nicolás Tagliafico oferecendo ultrapassagens pelo setor para dar amplitude ao time. Com dois atacantes centralizados - mais Tadic que frequentemente se somava a eles -, Antony podia manter sua posição aberta pela ponta direita (abaixo). De lá, podia usar toda sua habilidade e inteligência para tentar superar os rivais em espaços reduzidos antes de acionar um companheiro dentro da área ou finalizar a gol.
Na temporada 2020/21 da Eredevisie, Antony foi o quinto jogador com mais assistências na liga e não é difícil entender o porquê. Quando conduzia a bola para buscar o cruzamento, ou buscava companheiros para fazer combinações, os movimentos, dentro do desenho tático 4-2-3-1, lhe proporcionavam múltiplas opções de passe para criar oportunidades de gol aos companheiros, especialmente com Tadic fechando por dentro regularmente ao partir da ponta esquerda.
Movimentos interiores e as corridas de ultrapassagem do lateral-direito habitual, Noussair Mazraoui, apoiaram ainda mais a posição inicial de Antony, bem aberto pela ponta. Isso criava outras opções para o brasileiro, que podia, sem bola, atacar espaços às costas da defesa, ou flutuar por dentro e aumentar o poderio de sua equipe dentro da área.
Num 4-3-3
Na segunda temporada (2021/22) de Antony como jogador do Ajax, ten Hag utilizou mais o sistema 4-3-3. O brasileiro seguia atacando pelo lado direito, mas agora, os movimentos mais abertos dos meio-campistas interiores forneciam um tipo diferente de suporte e permitiram que Antony recebesse mais passes às costas da defesa depois de fazer corridas penetrantes à frente (abaixo).
O apoio ao redor e atrás da linha da bola, quando esta se movia ao corredor externo, agora vinha através do meio-campista interior e de Mazraoui, com suas ultrapassagens que permitiam a Antony cortar para dentro em direção ao último terço. No entanto, com menos jogadores por dentro e mais espaço para driblar, suas assistências diminuíram. Por outro lado, seu rendimento goleador seguiu quase idêntico, já que continuou cortando para dentro e finalizando principalmente em direção ao ângulo oposto ou acelerando em direção à área.
O apoio do meio-campista interior através dos corredores interiores, ao contrário do enfoque mais central do meia em sua primeira temporada, permitiu a Antony fazer mais combinações por fora dos laterais adversários. Aqui, ele demonstrou destreza na hora de encontrar o melhor passe, o que nem sempre era evidente no último terço, quando priorizava os dribles e as corridas à frente.
A partir desse posicionamento, podia realizar movimentos secundários através da linha defensiva e receber o passe entre linhas. O que lhe dava oportunidade de driblar em zonas mais centrais e encarar os zagueiros rivais com mais frequência.
Ao se reencontrar com o treinador com quem prosperou por duas temporadas no Ajax, Antony parece um jogador pronto para deixar sua marca na Premier League. Em tempos difíceis pelos lados de Old Trafford, o torcedor do Manchester United espera que o brasileiro faça valer o alto investimento do clube em sua contratação.