Raphinha
FC Barcelona, 2024-Presente
“Quando a contratação de Hansi Flick pelo Barcelona se tornou oficial, ele me ligou e disse que contava comigo, sem ter me visto treinar ou me conhecido pessoalmente. Isso foi fundamental para minha decisão de ficar. Eu sabia que teria um papel importante na equipe”, disse Raphinha em entrevista à France Football.
Essa confiança se refletiu nas atuações do atacante brasileiro, com estatísticas que, como veremos neste relatório, quase triplicam as das temporadas anteriores, com um terço da atual campanha ainda por jogar. E não são apenas as estatísticas de gols que floresceram, mas também o seu percentual de aproveitamento nas finalizações.
Raphinha sempre foi conhecido como um atacante incisivo, mas nunca como um goleador indiscutível. Até agora. Como prova, aqui estão alguns números. Na Liga dos Campeões de 22/23, ele tentou 10 chutes e não conseguiu marcar nenhum gol. Dois anos depois, ele marcou 11 gols em 40 tentativas nos primeiros dez jogos da Liga dos Campeões da UEFA 24/25.
Seus números nas liga nacionais providenciam uma fotografia igualmente reveladora. Em sua primeira temporada no Leeds United (Premier League 2020/21), ele marcou seis gols em 67 finalizações, o que lhe dá uma taxa de sucesso abaixo de 10%. Na LALIGA 24/25, ele acumulou 13 gols em 61 tentativas, dobrando a taxa de acerto de sua primeira temporada na Inglaterra. A pontaria do camisa 11 do Barcelona melhorou muito, portanto, não é de surpreender que várias das vitórias mais contundentes da equipe nesta temporada, como as contra o Benfica, tenham sido cortesia de seus gols.
Acabaram-se as dúvidas sobre o seu rendimento, assim como ficaram no passado os rumores de uma possível transferência no verão de 2024. Sob o comando de Flick, Raphinha não apenas melhorou seu jogo, mas também cresceu em liderança, tornando-se um jogador-chave para o Barcelona.
Mas o que mudou em seu jogo? Abaixo, nossos técnicos UEFA Pro analisam as chaves táticas e técnicas que levaram Raphinha a se tornar um dos melhores jogadores do momento.
Ultrapassagens e dribles pelo flanco
Hansi Flick potencializou todos as virtudes de Raphinha como ponta: especialista em ultrapassagens, velocidade explosiva e uma técnica refinada para superar os defensores e atacar o espaço atrás deles. Essas habilidades são complementadas por um centro de gravidade baixo e o uso preciso da parte interna e externa de sua perna dominante (esquerda). Isso permite que ele execute fintas sutis e mudanças de direção que confundem os adversários e quebram a estrutura defensiva do rival.
No entanto, a principal diferença do jogador da seleção brasileira em relação ao passado foi o desenvolvimento de todas as suas habilidades técnicas para jogar em espaços apertados (abaixo). Aqui, Raphinha não apenas gera perigo individualmente em ações de 1x1, mas também habilita várias linhas de passe para seus companheiros no campo adversário. Sua destreza para driblar gera superioridades numéricas pelos flancos. Atualmente, sob os comandos de Flick, ele tem atuado principalmente pela esquerda, onde força o adversário a fazer reajustes táticos constantes em seu sistema defensivo. Um aspecto fundamental contra rivais que jogam com um bloco baixo.
Além disso, seu perfil de jogador de lado do campo foi complementado por sua inteligência para reconhecer o momento exato em que precisa romper a linha defensiva com corridas verticais para a área. Raphinha não é apenas um jogador que ultrapassa o rival no 1x1 depois de fazer uma movimentação de apoio, mas também tem um alto papel associativo com o lateral Alejandro Balde, pelo lado esquerdo, e com Pedri, Gavi, Frenkie de Jong ou Marc Casadó em zonas internas. Em qualquer uma dessas situações, ou seja, por dentro ou por fora, ele gera combinações rápidas e fluidas que desorganizam a estrutura defensiva do adversário.
Na abordagem ofensiva do Barcelona de Flick, sua mescla de dribles, movimentações e associações o torna uma ameaça constante. Sobretudo quando faz a diagonal, para dentro, na direção do goleiro adversário, tanto em situações de um contra um quanto a partir da entrada da área (abaixo).
Precisão no último passe
Uma das qualidades mais notáveis de Raphinha na temporada 2024/25 é sua precisão no último passe, consolidando-se como um garçom decisivo. Ele deu 21 assistências até a Data-Fifa de março. Esse número de assistências já é bem maior do que em suas temporadas anteriores como jogador do Barcelona: 13 em 2023/24 e 12 em 2022/23.
Sua visão periférica e sua capacidade de ler o jogo ofensivo permitem que ele não apenas identifique espaços abertos, mas também encontre seus companheiros de equipe em posições vantajosas, tanto na zona ativa quanto no lado oposto da jogada. Depois de detectar o espaço e o companheiro de equipe, sua capacidade de executar passes com precisão milimétrica é fundamental para desbloquear defesas compactas, facilitando a penetração do Barcelona na área adversária (abaixo). Em seus passes, ele geralmente usa a parte interna ou o peito do pé esquerdo, sempre a favor do receptor da bola.
Um aspecto que diferencia Raphinha de outros pontas é sua capacidade de adaptar a velocidade e o tipo de passe de acordo com o contexto do jogo. Ou seja, ele é capaz de dar um passe curto e preciso para companheiro de equipe desmarcado, ou uma bola longa para um companheiro que ataque o espaço em profundidade. Essa flexibilidade nos passes permite que ele gerencie o ritmo do jogo. Ele toma boas decisões ao escolher entre se associar com jogadores próximos na lateral, como Balde ou os meio-campistas, ou fazer a ligação com Lewandowski e Lamine Yamal no lado oposto com passes longos (abaixo).
Mobilidade e posicionamento dinâmico
Sob os comandos de Flick, Raphinha se tornou um jogador muito mais móvel. Ele não se limita a jogar pela lateral, o que dificulta a marcação dos adversários. Do flanco esquerdo ou até mesmo em posições mais internas, ele procura desequilibrar em duelos individuais, além de fazer corridas de apoio em direção ao centro ou rupturas em diagonal na direção da área. Dessa forma, ele oferece várias opções de passe no ataque e no contra-ataque.
Sua mobilidade tática amplia as opções ofensivas do Barcelona, o que faz dele um elemento-chave tanto em ataques posicionais quanto em transições rápidas. Nessas ações, ele pode desempenhar o papel de ponta, meia-atacante ou até mesmo de um meio-campista interior. Dessa forma, ele ajusta sua posição para gerar superioridades no centro do campo e chegar à zona de finalização de forma escalonada e surpreendente (acima).
Quando a equipe precisa de amplitude, Raphinha está presente. Dessa forma, ele estica a última linha defensiva do adversário para explorar espaços no 1x1 ou para facilitar que Lewandowski, Lamine Yamal e Dani Olmo ataquem os intervalos em direção ao gol rival. Por outro lado, quando é necessária mais presença no meio-campo, sua inclinação para se deslocar para áreas internas permite que ele se conecte mais com a bola. O que desordena o sistema defensiva rival e favorece o fluxo do jogo nas fases de controle (abaixo).
Finalização e gols a partir da segunda linha
Embora se destaque principalmente como assistente e criador de jogadas, Raphinha é, nesta temporada 2024/25, uma ameaça constante nas finalizações a partir da segunda linha, tanto em espaços abertos quanto em zonas congestionadas. Antes da Data-Fifa de março de 2025, ele já havia anotado 27 gols. Em 2022/23 e 2023/24, ele marcou um total de 10 gols em cada uma dessas temporadas. Em outras palavras, ele quase triplicou sua contagem de gols com o último terço da atual temporada ainda por jogar.
Sua capacidade de vir do meio-campo (abaixo) ou da lateral com um timing preciso permitiu que ele marcasse gols importantes para o Barcelona, sendo que 74% deles foram marcados com o pé esquerdo (seu pé dominante) e 75% de dentro da área adversária.
Sua técnica de finalização, combinada com sua inteligência para identificar espaços abertos na área (abaixo), faz dele uma ameaça constante para os defensores e goleiros adversários.
Além disso, sua precisão na finalização e frieza na área o tornam eficaz tanto em chutes de média distância quanto em finalizações sutis no mano a mano.
No entanto, sua finalização não se limita a chutes potentes de média distância. Ele também demonstra grande compostura no 1x1 com o goleiro, consolidando seu perfil de atacante versátil e decisivo.
Pressão e recuperação defensiva
Raphinha não só contribui no ataque, mas também desempenha um papel fundamental na fase defensiva da equipe de Flick. Seu compromisso com a pressão intensa e sua disposição para recuar rapidamente fortaleceram a estrutura tática da equipe no campo adversário.
Se observarmos seu desempenho na pressão alta, ela ajuda a reduzir as opções de contra-ataque do adversário e facilita a recuperação rápida da posse de bola. Isso permite que a equipe mantenha o controle do jogo e enfraqueça a saída de bola do adversário. Nesse sentido, Raphinha assimilou perfeitamente os mecanismos da pressão alta de Flick, iniciando a perseguição aos zagueiros, laterais e goleiro adversários.
Sua rapidez de reação após a recuperação da bola permite que ele tome as melhores decisões. Seja finalizando ele mesmo a jogada (acima) para evitar que o adversário se reorganize ou servindo um companheiro de equipe melhor posicionado (abaixo).
Em suma, o estilo de jogo de Flick transformou Raphinha em um jogador com duplo impacto: desequilibrante no jogo ofensivo e um ativo defensivo na recuperação pós-perda da posse de bola. Esse salto evolutivo do jogador brasileiro foi decisivo para o Barcelona chegar a abril almejando o título de todas as competições que disputa.