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Sempre ao ataque

Daniele Fisichella
Sempre ao ataque
Fotografía: Elisabetta Zavoli
Redacción
Daniele Fisichella
Publicado el
abril 6 2022

ALBERTO ZACCHERONI

Udinese, 1995-1998; AC Milan, 1998-2001; Inter de Milão, 2003-2004; Juventus, 2010

Sigo sendo a mesma pessoa que cresceu em Cesenatico (Itália) e iniciou a carreira de treinador em uma equipe de crianças.

A minha primeira experiência foi na segunda equipe de meu vilarejo, chamada Ad Novas. Naquela época, eu ainda era muito jovem, um jogador amador, mas a minha carreira foi interrompida por causa de um problema pulmonar. Razão que não me permitia fazer os mesmos treinos físicos de meus colegas. 

Uma tarde, saí para correr em um campo onde estavam treinando duas equipes de crianças. Uma das equipes ficou abandonada depois de uma briga entre seus dois treinadores. 

Estavam prontos para começar o treino e o técnico que sobrou me perguntou se poderia ajudá-los. Foi divertido. No dia seguinte, voltei ao local e o time seguia sem treinador. Então, repeti a dose. Pouco tempo depois, eu era oficialmente o técnico daquela equipe sub-10. Foi assim que começou a minha “obsessão” como treinador.

Zaccheroni retornou a sua casa em Cesenatico, Itália. Elisabetta Zavoli
Zaccheroni retornou a sua casa em Cesenatico, Itália. Elisabetta Zavoli

O principal clube de minha cidade, o Cesenatico, notou a minha forma de liderar aquele grupo de meninos. E me fez uma proposta para ser o técnico de sua equipe sub-16. 

O time principal do Cesenatico ocupava a lanterna da Serie C2 (a quarta divisão italiana) e decidiu mandar embora o treinador. Só que não tinham orçamento para contratar um novo. Então, me pediram para assumir o comando da equipe.

Naquele momento, eu não tinha tirado todas as licenças para ser treinador e só pude trabalhar graças a uma exceção aberta pela Federação Italiana. Conseguimos evitar o rebaixamento: nas últimas 14 rodadas, ganhamos seis e empatamos quatro jogos. Mas, na temporada seguinte, voltei a treinar o time sub-16. 

E a história se repetiu quando faltavam três meses para o fim da temporada. O clube voltou a demitir o treinador principal e novamente me pediu ajuda. Deu certo, voltamos a nos salvar da queda. 

Mas foi decepcionante perceber que o clube não estava exatamente interessado em desenvolver os jovens talentos, além de me utilizar como um tapa-buracos.

“O SISTEMA DE JOGO É COMO UMA ROUPA: TEM QUE REALÇAR AS QUALIDADES E ESCONDER OS DEFEITOS”

No fim da temporada, eu tinha esperanças de ser chamado pelo Ascoli para comandar sua equipe Primavera (sub-19), mas não aconteceu. Entretanto, comecei a receber muitas propostas de equipes locais e, em 1985, aceitei o convite do Riccione, na Serie D. 

Na minha primeira temporada, nos classificamos para os playoffs, mas acabamos derrotados na final. Na temporada seguinte, fomos campeões. Conquistei duas vezes o título da Serie D: em 1987, com o Riccione; e pelo Baracca Lugo, em 1988. Com o Baracca Lugo, também ganhamos a liga da Serie C1 no ano seguinte. Foram tempos divertidos. 

Tive a sorte de treinar todas as categorias na Itália. Comandei jogadores de todos os níveis, o que me permitiu crescer como treinador. Cometi erros e aprendi com eles. 

AC Milan, Inter de Milão e Juventus. Zaccheroni comandou os ‘Três Grandes’ da Itália. Elisabetta Zavoli
AC Milan, Inter de Milão e Juventus. Zaccheroni comandou os ‘Três Grandes’ da Itália. Elisabetta Zavoli

Acima de tudo, aprendi que é melhor adaptar um sistema de jogo, que tire o melhor dos atletas, em vez de impor minha visão de futebol a qualquer custo. O sistema de jogo é como uma roupa: tem que ressaltar as qualidades e esconder os defeitos. 

Ser flexível é muito importante. Meu foco sempre esteve em melhorar cada um de meus jogadores, os fazendo sentir parte do projeto e dando as coordenadas nos treinamentos. 

Por exemplo, no fim dos anos 80, nem todo mundo na Itália estava convencido da eficácia da marcação por zona. Eu gostava porque entendia que encaixaria melhor com as características dos meus jogadores. Apesar de saber que o presidente e os diretores não compartilhavam da mesma convicção. 

“CRUYFF, INCLUSIVE, ME DEU UMA CARONA EM SEU CARRO. AS MINHAS PERNAS TREMIAM DE EMOÇÃO”

Todos se lembram de mim pelos bons resultados de minhas equipes. Em 1991, consegui levar o Venezia da Serie C para a Serie B, interrompendo uma espera de 24 anos. Em 1994/95, com o Cosenza, evitamos a queda apesar de uma punição que nos tirou nove pontos. Aquele ano na Calábria foi especialmente duro. Nem sequer tínhamos um campo para treinar. Utilizávamos a área entre a pista de atletismo e um dos gols.  

A Udinese me deu mais visibilidade. No fim da década de 1980 e no início dos anos 1990, a Udinese era um clube que só contratava jogadores em fim de carreira. O resultado dessa política foi a dificuldade de permanecer na Serie A por duas temporadas seguidas. O clube vivia o efeito ioiô. 

Fiz algumas mudanças, dei oportunidades a jovens atletas, troquei jogadores de posição e pus na reserva alguns veteranos. No meio-campo, por exemplo, optei por jogar com o Giuliano Giannichedda, que tinha 21 anos, no lugar do Stefano Desideri, que tinha passagens por Roma e Inter de Milão. 

Dejan Stankovic assinou com a Inter de Milão em janeiro de 2004, vindo da Lazio. Newpress/Getty Images
Dejan Stankovic assinou com a Inter de Milão em janeiro de 2004, vindo da Lazio. Newpress/Getty Images

Os proprietários - a família Pozzo - não estavam contentes no começo. Eu sabia dos riscos, mas, jogo a jogo, fui mudando a ideia deles. No fim de minha primeira temporada - 1995/1996 -, terminamos a liga na décima primeira posição, sendo uma equipe recém-promovida à elite. Depois daquela campanha, toda a filosofia da Udinese mudou. O clube passou a buscar jovens jogadores ao redor do mundo.  

Em todos os clubes que trabalhei, jamais pedi a contratação de jogadores. A única exceção foi em 2004, quando pedi à Inter para contratar o Dejan Stankovic (acima), quem havia comandado na Lazio. Eu sempre tratei de trabalhar com os atletas que tinha à disposição, e foi assim também em Udine. 

Jonathan Bachini, Raffaele Ametrano, Marco Zanchi, Márcio Amoroso, Mohammed Gargo, Stephen Appiah… São apenas alguns dos jogadores que ajudei a melhorar nos tempos de Udinese. 

O brasileiro Amoroso chegou como um camisa 10, mas não jogava em mais de 10 metros quadrados e os defensores rivais conseguiam marcá-lo facilmente. Tive que lutar para convencê-lo a jogar como centroavante, posição que seria bem mais perigoso graças a sua velocidade. 

O fim da história é que ele foi artilheiro da Serie A e, depois, da Bundesliga, pelo Borussia Dortmund. 

“TODOS AS EQUIPES JOGAVAM NO 4-4-2. JOGADORES CRIATIVOS, COMO DEL PIERO E ROBERTO BAGGIO, FORAM UTILIZADOS COMO SEGUNDO ATACANTE”

Na Udinese, também aperfeiçoei o 3-4-3 que me deu fama. 

Comecei a estudar esta formação depois que me mandaram embora do Bologna, na Serie C em 1994. Estava desempregado e decidi viajar de carro a Barcelona para ver alguns treinos de Johan Cruyff.

Um dia, lembro-me bem, eu era a única pessoa assistindo ao treino. Cruyff, inclusive, me deu uma carona em seu carro. As minhas pernas tremiam de emoção.  

O Barcelona de Cruyff também jogava no 3-4-3, mas com um losango no meio-campo e com Pep Guardiola voltando para ser um quarto defensor. 

O Barcelona de Johan Cruyff jogou num 3-4-3 similar ao que Zaccheroni implementou em sua etapa em Udine. Anton Want/Allsport
O Barcelona de Johan Cruyff jogou num 3-4-3 similar ao que Zaccheroni implementou em sua etapa em Udine. Anton Want/Allsport

Com a Udinese, decidi jogar com um meio-campo em linha porque contava com três extraordinários atacantes: Amoroso, Paolo Poggi e Oliver Bierhoff. Não queria que jogassem a 60 metros do gol e nem que corressem para trás. Por isso, decidi escalar um meio-campista a mais nos onze iniciais. Na prática, só defendíamos com sete jogadores. 

A princípio, parecia impossível convencer os jogadores a abraçar este novo sistema. Não queriam mudar. Naquele tempo, todos os times da Serie A jogavam no 4-4-2. Jogadores criativos, como Alessandro Del Piero e Roberto Baggio, foram utilizados como segundo atacante. Outros, como Gianfranco Zola, não encontraram espaço neste modelo de jogo e tiveram que ir jogar fora do país. 

Para convencer os meus jogadores, propus um pacto: “Se estivermos perdendo faltando 20 minutos para o fim, jogaremos no 3-4-3 em vez de nos limitarmos a cruzar bolas na área”.

Os jogadores seguiam desconfiados, mas aceitaram a minha proposta. E, no fim, conseguimos bons resultados. 

“A PRIMEIRA COISA QUE FIZ NO MILAN FOI CONVERSAR COM OS JOGADORES MAIS EXPERIENTES: ALBERTINI, COSTACURTA E MALDINI”

O meu trabalho seguia nos treinamentos, mas o momento crucial para aquele time e, em parte, para a minha carreira, aconteceu numa tarde de abril de 1997. Jogávamos em Turim contra a Juventus, líder da Serie A. 

A Juventus dominava o campeonato e apenas seis dias antes tinha vencido o Milan por 6 a 1 em San Siro. Aos 50 segundos de jogo, o árbitro Roberto Bettin, inexplicavelmente, expulsou o defensor Régis Genaux. Em vez de tirar um atacante, decidi adotar uma defesa com três homens, jogando num 3-4-2. 

Sabia que era muito arriscado. Se perdêssemos por cinco gols ou mais, a minha carreira de treinador estaria arruinada. Mas decidi tentar e todos os atletas mostraram altivez. Ganhamos por 3 a 0, com dois gols de Amoroso e um de Bierhoff (abaixo). Foi uma tarde maravilhosa. 

Oliver Bierhoff, dono de 70 convocações pela Alemanha, foi comandado por Zaccheroni na Udinese e no Milan. Franco Origlia/Getty Images
Oliver Bierhoff, dono de 70 convocações pela Alemanha, foi comandado por Zaccheroni na Udinese e no Milan. Franco Origlia/Getty Images

Na semana seguinte, jogamos contra o Parma, que lutava pelo título com a Juventus. 

Os jogadores estavam nervosos antes da partida, porque não sabiam com que sistema iríamos atuar.

Quando mostrei no quadro que seria o 3-4-3, respiraram aliviados: já não queriam mais jogar de outro jeito. Também ganhamos do Parma, 2-0, e terminamos a temporada na quinta colocação. O clube se classificou pela primeira vez para a Copa da Uefa. 

O 3-4-3 é um sistema muito complexo. Na Itália, vários treinadores já tentaram reproduzi-lo, mas não creio que alguém tenha conseguido fazer tão bem quanto aquela Udinese. 

Depois de nos classificarmos para a Copa Uefa com a Udinese por dois anos consecutivos, senti que era o momento de mudar de ares. Todos os grandes clubes me procuraram: Parma, Inter de Milão e até o Real Madrid. No fim, cheguei a um acordo com o AC Milan. 

“A MINHA RELAÇÃO COM WEAH NÃO ERA MUITO BOA; HAVIA RESPEITO ENTRE NÓS, MAS NÃO VÍAMOS AS COISAS DO MESMO MODO”

Adriano Galliani, então diretor esportivo, me ligou no verão de 1998. No começo, achei que fosse alguma brincadeira. 

Eu sabia que o Milan tinha Fabio Capello como treinador, mas vinham de duas temporadas muito difíceis, fechando as campanhas na Serie A nos modestos 11º e 10º lugares na classificação. Uma semana depois daquela ligação, fui a casa de Silvio Berlusconi. Chegamos a um acordo em menos de 30 segundos. 

O Milan tinha bons jogadores, mas o elenco estava envelhecido e nem Arrigo Sacchi, nem Fabio Capello, conseguiram êxito nas duas temporadas anteriores. Primeiro, chamei os jogadores mais experientes: Demetrio Albertini, Alessandro Costacurta e Paolo Maldini (abaixo). Falei a eles que entendia as dúvidas que poderiam ter sobre mim. Eu não tinha sido um grande jogador, e queria jogar no 3-4-3, sistema que não estavam acostumados. 

Paolo Maldini celebra o título do Milan na Serie A de 1999, sob os comandos de Zaccheroni. Allsport UK/Allsport
Paolo Maldini celebra o título do Milan na Serie A de 1999, sob os comandos de Zaccheroni. Allsport UK/Allsport

Esses jogadores imediatamente se mostraram abertos às novas ideias. Disseram que estavam quase desesperados depois de duas temporadas duras, e queriam tentar algo diferente. Os veteranos foram fundamentais para motivar os demais a seguirem meus conselhos. Durante dois meses, treinamos forte para que os atletas aprendessem como e onde deviam se movimentar no 3-4-3. 

Naquele ano, não sentíamos tanta pressão no time. Não estávamos em nenhuma competição europeia, o que nos dava mais tempo para treinar. A Lazio tinha um time bem mais forte e, a sete rodadas do fim, eles achavam que o campeonato estava ganho. Creio que não nos levaram a sério e começaram a baixar o ritmo. Depois, quando nos aproximamos na tabela, era tarde demais para eles reagirem. 

Aquele elenco do Milan tinha muita dignidade. Havia grandes jogadores, como Maldini e Costacurta, que queriam provar que não tinham acabado para o futebol. 

Maldini já não conseguia cobrir todo o corredor esquerdo, como se acostumou a fazer por tantos anos. Falei a ele para não se preocupar com isso, e focar em ser um grande lateral defensivo, como sempre tinha sido. Queria que pressionasse até a linha do meio-campo, mas quando estávamos em desvantagem no placar, pedia para que atacasse mais. Naquele ano, ele fez um gol e deu duas assistências. 

“O MILAN QUERIA GANHAR JOGANDO BEM ; PARA A INTER, PORÉM, SÓ CONTAVA O RESULTADO”

Por outro lado, Costacurta estava com dificuldades com as bolas nas costas, porque já não tinha a mesma velocidade. Só que taticamente, ele era excepcional. Então, disse a ele para não se preocupar com os lançamentos longos e se limitar em defender o que estava à sua frente. Dei a ele uma zona menor de campo para cobrir e, assim, teve um ótimo desempenho. Ele lia o jogo com tanta facilidade, que parecia capaz de jogar até com um cigarro no canto da boca! 

A minha relação com George Weah não era muito boa (abaixo, esquerda). Havia respeito entre nós, mas não víamos as coisas do mesmo modo. Ele queria jogar como 9, mas o Milan tinha comprado Bierhoff. Não pedi ao clube para contratar o alemão - ele tinha vindo a pedido de Capello -, portanto foi uma agradável coincidência reencontrá-lo ali.  

Obviamente, não podia pedir a Bierhoff para jogar pelas pontas, então decidi deslocar Geroge à esquerda. Ali, tinha 30 metros à sua frente e, com a cobertura de Andrés Guglielminpietro, não precisava perseguir os defensores rivais. Não estava muito feliz com a nova função, mas quando cortava para dentro, para seu pé direito, era muito perigoso.  

George Weah e Bierhoff faziam parte do ataque do Milan de Zaccheroni, com o africano atuando pelo lado esquerdo e Bierhoff como centroavante. Claudio Villa/Allsport
George Weah e Bierhoff faziam parte do ataque do Milan de Zaccheroni, com o africano atuando pelo lado esquerdo e Bierhoff como centroavante. Claudio Villa/Allsport

No Milan, também dei oportunidades a jovens atletas como Giuseppe Cardone, Lugi Sala e Christian Abbiati, mas o meu grande arrependimento foi o Christian Ziege.

Tentei convencê-lo a jogar pelo lado, como ala. Eu tinha certeza que ele poderia desempenhar bem a função. Tinha a técnica de um meia-atacante - dono de uma perna esquerda capaz de fazer gols e dar assistências -, mas também era capaz de correr para cima e para baixo durante os 90 minutos. Infelizmente, nunca aceitou totalmente a ideia de não jogar como lateral-esquerdo. E ao deixar o Milan, sua carreira não decolou. 

Depois do Milan, por que a Inter? Simples: sempre fui um torcedor nerazzurro. Quando era jovem, meu ídolo era o defensor Tarcisio Burgnich,

Em 2003, Massimo Moratti despediu Héctor Cúper e me ofereceu um contrato de dois anos. 

“SEMPRE ANALISO O QUE O JOGADOR PODE DAR EM CAMPO, E NÃO O SEU CURRÍCULO”

Comecei muito bem, mas logo perdi um dos meus jogadores fundamentais, Francesco Coco, que jogava como ala pela esquerda. Coco era muito importante em meu 3-4-3, mas passou por uma cirurgia e perdeu o resto da temporada. 

Tínhamos uma boa equipe, com Christian Vieri, Adriano e Álvaro Recoba, entre outros. No fim, conseguimos nos classificar para a Champions League. Porém, Moratti já estava decidido em contratar Roberto Mancini para a nova temporada.

Creio que os dois clubes de Milão eram diferentes naqueles tempos. O Milan queria ganhar jogando um bom futebol e tinha cultivado uma tradição neste sentido ao longo dos anos. 

Para a Inter, porém, só contava o resultado. Fazia muitos anos que não ganhavam o campeonato e, provavelmente por esta razão, só pensavam em ganhar o maior número de jogos possíveis. 

Zaccheroni dirigiu a Juventus por cinco meses em 2010, em sua última experiência na Serie A. Valerio Pennicino/Getty Images
Zaccheroni dirigiu a Juventus por cinco meses em 2010, em sua última experiência na Serie A. Valerio Pennicino/Getty Images

Completei a minha experiência nos “Três Grandes” quando assinei com a Juventus, em 2010. Foi uma situação parecida com a que encontrei no Milan. A equipe estava repleta de bons jogadores, mas muitos deles já na reta final da carreira. 

Fiz o melhor que pude e estive a ponto de renovar o contrato, mas Andrea Agnelli assumiu a presidência, substituindo John Elkann e, no fim da temporada, trouxe Luigi Del Neri. 

Mesmo com o Del Neri, os resultados não melhoraram. A Juventus terminou a liga na sétima colocação, a mesma que ficou quando eu estava lá. 

Sempre encontrei uma maneira de me adaptar. Obviamente, toda vez que me desentendi com um presidente ou um diretor, acabei seguindo outros caminhos. 

Mas sempre foquei em treinar os jogadores, nunca o presidente. Nunca chamei um presidente para reclamar de nada. Por outro lado, alguns deles me procuraram para sugerir escalações. Sempre tratei a todos com o máximo respeito e sempre exigi respeito de meus jogadores.

“SURPREENDI A TODOS COM A DECISÃO DE IR TREINAR NO JAPÃO, INCLUINDO A MINHA ESPOSA”

Talvez, alguns jornalistas italianos não gostavam que eu não passava informações sobre a escalação antes dos jogos, mas sempre preferi ser honesto com meus jogadores. Nesses três clubes gigantes, sempre tive um bom relacionamento com os atletas - com exceção de alguns veteranos, que exigiam jogar em função do que tinham feito no passado. Só que eu sempre analiso o que o jogador pode dar em campo, e não o seu currículo. 

Acredito que, como treinador, meus melhores trabalhos aconteceram quando treinei um time desde o início da temporada. Por exemplo, no Riccione, no Baracca Lugo, no Venezia, no Cosenza, na Udinese e no Milan. Em outros clubes, que me trouxeram no meio da temporada, tudo foi mais complicado. 

De qualquer maneira, sempre fui feliz porque estava trabalhando na liga mais importante do mundo. Naquela época, a Serie A podia não ser a liga mais bonita, mas certamente era a mais competitiva. Todos queriam treinar na Itália. Recebi algumas ofertas do exterior, mas não era dinheiro que eu buscava. 

Zaccheroni levou o Japão à conquista da Copa da Ásia em 2011.
Zaccheroni levou o Japão à conquista da Copa da Ásia em 2011. Koki Nagahama/Getty Images

O salário definitivamente não influenciou a minha decisão de ir treinar a seleção japonesa, em 2010. As novas experiências sempre me fascinaram. E me intrigava a ideia de viver e trabalhar no Japão. 

Para ser sincero, no Japão ganhei menos do que teria recebido em outros lugares. Surpreendi a todos com a minha decisão, incluindo a minha esposa, que inicialmente demorou a acreditar em mim. Fui para lá sem saber nada sobre o Japão e sua cultura futebolística, e terminou sendo uma experiência incrível. 

Ganhamos a Copa da Ásia em 2011 (acima) e estabelecemos um recorde de invencibilidade de 18 partidas. 

“DEPOIS DE 40 ANOS DE CARREIRA, TENHO MAIS TEMPO PARA REFLETIR. SE PUDESSE VOLTAR ATRÁS NO TEMPO, REPETIRIA TUDO O QUE FIZ”

Não falava japonês, mas mesmo assim consegui passar as minhas ideias nos treinamentos. Havia muitos jogadores talentosos, muitos deles acabaram jogando no futebol europeu. 

Me apaixonei por aquele grupo de atletas - até hoje nos mandamos mensagens - e fiquei impressionado com o respeito e a educação de todos os japoneses. Senti que eles também me amavam. Foram quatro anos inesquecíveis. 

Sem dúvida, aprendi muito com as diversas experiências que tive no futebol, mas sempre gostei de mudar e experimentar algo diferente. Cada jogador é diferente e cada equipe é diferente. Por isso, ser treinador é um trabalho fantástico. 

Não me considero um egocêntrico. Gosto de dividir os meus objetivos e êxitos com a minha comissão técnica e com os meus jogadores. 

Alberto Zaccheroni
Elisabetta Zavoli

Todos os resultados conquistados pelas minhas equipes foram fruto de muito trabalho e sacrifício. Sempre acreditei na qualidade dos meus jogadores. Acho que consegui convencer vários deles a seguirem as minhas ideias e interpretarem o jogo de uma maneira menos convencional. 

Agora, depois de 40 anos de carreira, e tendo retornado a minha casa, em Cesenatico, tenho mais tempo para refletir. Se pudesse voltar atrás no tempo, repetiria tudo o que fiz. 

Sempre quis e tentei ganhar, até nas situações mais adversas. 

Sempre joguei com três atacantes, até nos jogos fora de casa. Sempre ao ataque. 

Eu era assim, como treinador.