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Christophe Galtier: Análise Tática

The Coaches' Voice
Christophe Galtier: Análise Tática
Getty Images
Redacción
The Coaches' Voice
Publicado el
septiembre 1 2022

Christophe Galtier

Paris Saint-Germain, 2022-Presente

Christophe Galtier vinha subindo degraus até chegar ao mais alto do futebol francês. Após uma carreira de jogador bastante discreta, assumiu seu primeiro trabalho como treinador no Saint-Étienne, em 2009. Uma equipe que se encontrava na parte debaixo da tabela e que ele salvou do rebaixamento. Galtier rapidamente implementou uma reviravolta no clube, transformando a equipe numa das melhores da Ligue 1 por um período de sete anos. 

Seu principal êxito, no entanto, veio no Lille. Em seu primeiro ano, assegurou a permanência da equipe na divisão de elite. No segundo, em sua primeira temporada completa no clube, terminou a liga na segunda colocação. A continuidade do trabalho levou o Lille ao improvável título do campeonato francês. Para isso, precisou superar seu atual clube, o Paris Saint-Germain, que reinava absoluto na competição nos últimos anos. Muito provavelmente, foi esta conquista que convenceu o PSG a contratá-lo para substituir Mauricio Pochettino.

Em Paris, Galtier tem a missão de acabar com a espera do clube pela tão sonhada glória na Liga dos Campeões. “Estou feliz de me juntar ao Paris Saint-Germain. Gostaria de agradecer o presidente e o clube pela confiança em mim”, disse em sua apresentação, em julho de 2022, após assinar um contrato válido por dois anos. “Sou plenamente consciente das responsabilidades que implica treinar esse extraordinário time, com um dos elencos mais competitivos e espetaculares da Europa. Meu foco está na ambição, no trabalho duro e em aproveitar ao máximo o potencial da equipe".

Estilo de jogo:

Ao longo de sua etapa no Saint-Étienne, sobretudo em seus dois últimos anos, o êxito de Galtier teve como base um sólido sistema defensivo. Muito mais que um futebol ofensivo fluido. Na temporada 2015/16, por exemplo, o Saint-Étienne marcou apenas 42 gols em 38 partidas, fechando a campanha na sexta posição. Oito dos 14 adversários que terminaram abaixo de sua equipe na classificação marcaram mais gols. Na temporada seguinte - sua última no clube -, seu time marcou 41 gols na campanha, e mesmo assim terminou na oitava colocação.

Nessas campanhas à frente do Saint-Étienne, utilizava um 4-3-3 com apenas um volante, que se alterava com um 4-2-3-1 quando julgava necessário ter dois meio-campistas de contenção. Boa parte do jogo ofensivo da equipe se baseava nos movimentos e trocas de posições dos laterais e pontas. Quando o ponta ficava em posição avançada e bem aberta, o lateral era mais conservador. Isso permitia corridas agressivas desde o centro do meio-campo, através dos corredores internos, do meia-atacante e dos meio-campistas centrais no 4-2-3-1, como também dos 'interiores' no 4-3-3.

Os cruzamentos eram uma parte importante do jogo ofensivo, especialmente na temporada 2015/16. Benoît Assou-Ekotto e Kévin Monnet-Paquet eram cruciais para manter a amplitude pela esquerda (acima), assim como Kévin Théophile-Catherine e Romain Hamouma pela direita. Na temporada seguinte, o Saint-Étienne desenvolveu menos seu jogo pelos lados. Optou por um meio-campista mais defensivo que frequentemente recuava para ajudar a primeira linha, além de construir o jogo por zonas centrais de forma mais consistente.

Adaptação do 4-2-3-1 no Lille

Galtier utilizou uma dupla de volantes num 4-2-3-1 em suas duas primeiras temporadas completas no Lille. Mais tarde, essa formação se adaptou a uma estrutura 4-4-2, utilizada na campanha do título francês na temporada 2020/21. Esse desenho tático foi construído em torno da dupla de atacantes, formada por Jonathan David e Burak Yilmaz. Juntos, eles marcaram 29 gols na campanha do título. Conquista que também serviu para comprovar a versatilidade tática de Galtier.

Ao contrário do Saint-Étienne, o Lille era uma equipe que utilizava menos os cruzamentos pelos lados. Em vez disso, privilegiava em seu jogo ofensivo combinações pelo meio, passes em profundidade e corridas às costas da defesa rival. Yilmaz, que já tinha 35 anos no início da temporada, buscava participar como homem de ligação com o meio-campo. David, por sua vez, se encarregava das corridas às costas dos rivais (acima). Esses movimentos opostos eram muito eficazes para conseguir separar os zagueiros adversários.

Os pontas Jonathan Bamba e – quando jogava– Jonathan Ikoné, buscavam atacar mais às costas da defesa. Ambos tentavam se desmarcar dos defensores para se aproximar de David, com o objetivo de aumentar a densidade central no ataque. Para a dupla de volantes, Galtier tinha como opções Renato Sanches, Benjamin André, Boubakary Soumaré e Xeka. A um deles sempre era aconselhado que se aproximasse de Yilmaz. Isto, enquanto o outro volante buscava enviar bolas em profundidade e passes aéreos para os jogadores que chegavam em corridas por dentro vindos das segunda linha.

Quando Luiz Araújo jogava pela direita, gostava de incursionar por dentro ou manter sua posição em vez de fazer corridas às costas da defesa. Isso acrescentava um jogador extra no centro do campo contra rivais com um meio-campo formado por três homens. Apesar de perder um homem para ameaçar os espaços no ataque, o posicionamento de Araújo ajudava o Lille a se conectar com a linha ofensiva.

Como resultado, frequentemente o desenho tático se adaptava a um 4-2-2-2. Com Araújo movendo-se próximo a um recuado Yilmaz, à frente da duple de volantes, e David como único atacante pela ponta oposta. Os adversários tiveram sempre dificuldades para fazer frente às mudanças de posições e à ameaça central do Lille. Mesmo que a equipe de Galtier tenha feito a relativamente modesta cifra de 64 gols na campanha do título.

Continuidade do 4-4-2 no Nice

Galtier passou a temporada 2021/22 no Nice antes de sua recente mudança ao PSG. Terminou a liga francesa na quinta colocação, além do vice-campeonato na Copa da França. No Nice, manteve a estrutura da equipe num 4-4-2, que havia utilizado no Lille. O ponta-esquerda Justin Kluivert proporcionava corridas em profundidade similares ao redor e à frente da dupla de atacantes (acima).

Amine Gouiri, Andy Delort e Kasper Dolberg atuavam como centroavante, com um deles sempre mais recuado para separar os zagueiros rivais. O Nice foi a segunda equipe que mais cruzamentos fez na Ligue 1 em sua única temporada sob os comandos de Galtier. Frequentemente, Kluivert mantinha a amplitude pela esquerda, apoiado por um lateral com vocação ofensiva, Melvin Bard. No entanto, com um dos atacantes - geralmente Delort - frequentemente se movimentando para o lado, depois de ter recuado sua posição, dando à equipe de Galtier amplitude também pela direita.

Deste modo, a equipe criava uma opção adicional para cruzar a bola depois da troca de posições com o meia-direita. Ao manter sua posição, o outro atacante oferecia ao Nice presença de área. Ao mesmo tempo que um meio-campista e o ponta do lado oposto também chegavam para se somar aos ataques.

Fase defensiva e pressão:

Com Galtier, como destacamos, o Saint-Étienne não marcou muitos gols, mas se mostrou muito sólido defensivamente, sendo a terceira equipe menos vazada da Ligue 1 na temporada 2015/16 e a sexta em 2016/17. Sem a bola, o time se posicionava num bloco médio ou baixo, com os dois laterais trabalhando muito nas transições defensivas para voltar a ter uma estrutura defensiva compacta o mais rápido possível.

As combinações pelos flancos foram cruciais no jogo ofensivo do Saint-Étienne. O fato de que seus jogadores de lado se mantinham próximos uns dos outros, em seu desenho defensivo, significava que eram mais efetivos na transição. Além disso, a profundidade dos pontas permitia aos laterais estreitarem por dentro para formar uma linha defensiva muito compacta (abaixo). 

O Saint-Étienne buscava induzir o seu rival a jogar por fora, deixando o jogo avançar pela parte alta do campo e confiando na compactação de sua zaga para proteger a zona perto do gol e lidar com cruzamentos e dribles. Quando necessário, um jogador da dupla de volantes ou o meio-campista interior próximo à bola realizavam o balanço defensivo para tentar bloquear o jogo e evitar que o rival voltasse a reiniciar a jogada por dentro.

No Lille, a equipe manteve seu desenho 4-4-2 nos momentos sem bola. Porém, a unidade do meio-campo se defendia de forma um pouco diferente, já que Galtier utilizou um bloco médio. Os laterais se colocavam em posições muito estreitas, sobretudo quando a bola estava no lado oposto. Isso supunha duas linhas compactas de quatro homens (abaixo), contra uma única que tinha o Saint-Étienne.

Contudo, nessa estrutura, os laterais eram mais propensos a sair para participar nas zonas exteriores. Nesse caso, os zagueiros, José Fonte e Sven Botman, foram muito mais proativos na hora de sair de suas posições para pressionar.

Os meio-campistas priorizavam a proteção das zonas centrais, cobrindo o espaço à frente dos zagueiros, mas também fazendo corridas de recuperação em direção à linha de fundo quando os laterais saíam para pressionar a bola. Como resultado, os meio-campistas de lado se estreitavam ainda mais, e se colocavam em posições centrais mais perigosas para iniciar ataques. O desenho 4-2-2-2 nas transições foi uma arma de contra-ataque muito eficaz do Lille de Galtier que ganhou o o título.

O esquema defensivo de seu Nice costumava ser um 4-4-1-1, com uma divisão mais acentuada na linha de ataque (acima). O atacante ligeiramente recuado ajudava nas transições, atuando como elo para que os jogadores de lado encontrassem o destino do primeiro passe à frente. O posicionamento desse atacante mais recuado também permitia que um dos meio-campistas baixasse para cobrir espaços entre linhas, o que se traduzia numa maior segurança à frente e entre os dois zagueiros.

Galtier encara um novo desafio à frente de um elenco repleto de estrelas no PSG. Porém, em sua carreira tem demonstrado sua versatilidade e habilidade como treinador em contextos diferentes como foi no Saint-Étienne, no Lille e no Nice. Será fascinante ver como o técnico francês encaixa todas as estrelas ofensivas que tem à disposição sem perder o equilíbrio que caracteriza suas equipes. E ver também como se desenvolve na Liga dos Campeões, competição que ele ainda não tem uma vasta experiência.

Os treinadores do PSG têm sido julgados pelo desempenho na Champions League, justamente onde todos seus antecessores fracassaram. Só o tempo dirá se Galtier será capaz de conseguir o tão sonhado título europeu com a equipe da capital francesa.

Possível onze de Galtier no PSG.