Tite
Seleção brasileira, 2016-2022
Campeão da Copa América de 2019, Tite alcançou um objetivo raro na seleção brasileira: foi o comandante em duas Copas do Mundo. Apenas Zagallo, Luiz Felipe Scolari, Carlos Alberto Parreira e Telê Santana haviam feito isso antes. No entanto, Tite não realizou seu grande sonho: vencer a Copa. A Bélgica, em 2018, e a Croácia, em 2022, deixaram o Brasil de Tite pelo caminho. Poucos dias após perder para os croatas, na disputa de pênaltis, o técnico encerrou, em dezembro de 2022, a sua longa passagem pela seleção.
Tite agora ambiciona retornar à direção de clubes, onde acumula uma vasta experiência de sucesso. Ele treinou, por exemplo, Grêmio, Internacional, São Caetano, Palmeiras, Atlético MG, mas é lembrado, principalmente, pelo trabalho feito no Corinthians. Com o clube paulista, conquistou, entre outras coisas, a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes da FIFA, ao bater o Chelsea em 2012 (veja a Masterlclass de Tite sobre esse jogo no vídeo abaixo). Essa foi a última vez que um clube sul-americano venceu um europeu nessa competição.
Inspirado por Ênio Andrade (tricampeão do campeonato brasileiro), Luiz Felipe Scolari e Carlos Froner, Tite também é conhecido por suas abordagens estudiosas do futebol e seu contato com outros treinadores para aprender novos conceitos. Em 2014, por exemplo, ele viajou a Madri para passar um tempo com Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid. Dessa interação com o treinador italiano, Tite afirma ter aprendido ser "mais direto" com seus jogadores, "mais preciso" na preparação das partidas e a fazer sua equipe jogar no estilo mais rápido e intenso das principais ligas europeias. Conceitos que Tite aplicou em todas as suas equipes, incluindo a seleção brasileira. Qual será o próximo clube onde o vitorioso treinador irá aplicar suas táticas e sistemas?
Estilo de jogo:
Grande parte do sucesso de Tite como técnico vem da qualidade dos sistemas defensivos de seus times. O treinador foi um dos primeiros a adotar o conceito posicional em uma marcação por zona na seleção. Uma das características recorrentes nas equipes de Tite é a linha defensiva bem estreita, formada por 4 homens (abaixo, com o Corinthians), num esquema 4-1-4-1. Os laterais e os zagueiros devem jogar sempre em linha, compartilhando espaço e ritmo à frente da área para provocar o impedimento do atacante rival.
Ao assumir o comando da seleção brasileira, em 2016, ele introduziu métodos de treinamento modernos e uma mentalidade vitoriosa, alcançando grandes resultados: o Brasil perdeu apenas um jogo antes da Copa do Mundo de 2018, um amistoso contra a Argentina.
Além dos resultados, o futebol ofensivo foi outra boa notícia. Entre 2016 e 2017, o Brasil mostrava em campo um jogo de rápidas movimentações que causou muitos danos aos adversários. Com a posse de bola, o sistema se baseava em triangulações curtas: pelo lado direito, Dani Alves tinha a companhia de Willian e Paulinho. Na esquerda, Renato Augusto se conectava com Neymar e Marcelo (abaixo). Estrutura que recebia o suporte de Casemiro que, assim como fazia no Real Madrid, atuava como volante.
No time titular, um dos jogadores mais importantes para Tite era Paulinho. O ex-jogador do Barcelona combinava poder de marcação com uma grande capacidade de penetração nos espaços vazios do campo. Após Paulinho marcar um hat-trick contra o Uruguai (num amistoso em 23 de março de 2017), o treinador decidiu que o meio-campo ideal seria formado por ele, Casemiro e Renato Augusto. Três jogadores que combinavam inteligência, força física e passes curtos na ideia de fazer circular a bola em triangulações.
No entanto, tudo mudou quando Renato Augusto se lesionou antes da Copa de 2018. A lesão abriu espaço para Philippe Coutinho, que havia se transferido para o Barcelona, ter mais protagonismo na seleção.
Ao ver sua formação titular desmantelada, Tite teve que buscar novas alternativas. A primeira foi uma abordagem mais defensiva. Na vitória por 1-0 contra a Alemanha no início de 2018, o Brasil teve menos posse de bola que o rival e mostrou uma linha defensiva compacta e estreita (como Tite fez no Corinthians). A marcação por zona já era uma realidade em todo o mundo, mas foi a primeira vez que a seleção brasileira passou a dar mais importância a essa abordagem defensiva.
A outra alternativa foi jogar com Coutinho no meio-campo, mudando para um sistema 4-1-4-1. Dessa forma, sem os passes curtos que Renato Augusto (que jogou poucos minutos na Copa de 2018) proporcionava, o Brasil se tornou uma equipe mais vertical, mas com menos elaboração no jogo (abaixo).
Para complicar as coisas, a Copa da Rússia mostrou equipes com sistemas defensivos tão compactos e fechados que Tite precisou ajustar um pouco seu estilo de jogo e optar por uma abordagem mais posicional para superar as defesas adversárias.
Isso levou Willian e Neymar - às vezes Marcelo - a se manterem abertos, e Coutinho e Gabriel Jesus a jogarem entre as linhas. Assim, o Brasil teve muita posse de bola, mas também teve dificuldades em superar sistemas defensivos sólidos, como aconteceu contra Costa Rica e México, e na derrota nas quartas de final contra a Bélgica.
Copa América 2019
Tite teve que repensar sua equipe para iniciar o próximo ciclo à frente da Seleção. Além de toda a pressão por ter caído nas quartas da Copa de 2018, o Brasil jogaria a Copa América do ano seguinte em casa, o que não acontecia desde 1993.
Ao manter o 4-1-4-1, com um ataque posicional e um rigoroso sistema de marcação por zona, Tite encontrou uma equipe, na qual Dani Alves - depois de ter ficado de fora da Copa do Mundo devido a uma lesão - atuou como lateral sem a bola, mas como meio-campista na fase de posse (abaixo). Ele articulava as jogadas de ataque ao lado de Arthur e buscava conexões, em passes longos, com Everton Cebolinha, Gabriel Jesus e Firmino, que deram mais mobilidade ao ataque. O resultado foi um sucesso tanto em desempenho quanto em resultado, com o título conquistado diante de seus torcedores.
O meio-campo e Neymar
Apesar da conquista da Copa América de 2019, Tite teve que resolver algumas dúvidas na seleção. A principal estava no meio-campo, onde o treinador buscava um jogador com capacidade para controlar o jogo e chegar à área adversária. Até 2019, nenhum dos jogadores testados teve continuidade na equipe titular.
Um desses nomes foi Arthur (abaixo), jogador de muita habilidade e controle de bola, mas com dificuldades para ser mais fluido e ocupar o campo adversário em fase ofensiva. Bruno Guimarães (Newcastle) e Allan (Al-Wahda) também foram testados na função, assim como Lucas Paquetá (West Ham). Enquanto tentava encontrar a peça ideal, Tite manteve a ideia pela qual apostou na Copa América, ou seja, utilizar os homens do meio-campo na fase ofensiva e dar a eles funções de área a área.
Além disso, o treinador teve que administrar a influência de Neymar no grupo para tentar tirar o melhor desempenho do craque na seleção. Enquanto dava também oportunidades a jogadores mais jovens como, por exemplo, Renan Lodi, Everton Cebolinha (que já teve papel de destaque na Copa América), Rodrygo Goes e Vinícius Júnior.
Durante a sua passagem pela seleção brasileira, Tite teve que resolver esses problemas. Mas nada que fosse novidade em sua trajetória. Durante quase cinco anos no Corinthians, o treinador experimentou pelo menos cinco sistemas diferentes.
Entre 2008 e 2009, no comando do Internacional, criou duas equipes diferentes, inclusive utilizando pela primeira vez um 4-3-1-2, que permitiu aos atacantes grande fluidez e mudanças de posição. Em poucos meses de trabalho no Palmeiras, salvou o clube do rebaixamento com um 3-4-2-1, fazendo com que o atacante Edmundo, aos 37 anos, voltasse a ser protagonista. A bagagem de Tite não deixa nenhum dúvida: é um treinador que sabe se reinventar, e faz o mesmo com suas equipes.